Image
Crítica

Kali Malone

: "Living Torch"

Ano: 2022

Selo: Portraits GRM

Gênero: Experimental, Drone

Para quem gosta de: Tim Hacker e Mary Lattimore

Ouça: Living Torch I e Living Torch II

8.0
8.0

Kali Malone: “Living Torch”

Ano: 2022

Selo: Portraits GRM

Gênero: Experimental, Drone

Para quem gosta de: Tim Hacker e Mary Lattimore

Ouça: Living Torch I e Living Torch II

/ Por: Cleber Facchi 11/08/2022

Kali Malone é uma compositora norte-americana que há dez anos mudou-se para Estocolmo, na Suécia, onde se dedicou ao estudo de instrumentos eletroacústicos, principalmente o órgão de tubos, base para grande parte de suas criações. Entre os trabalhos apresentados pela artista, registros como os imersivos Cast of Mind (2018) e The Sacrificial Code (2019) em que busca tensionar os limites da própria obra a partir da sobreposição dos elementos. São ambientações sintéticas, sopros e texturas granuladas, estímulo para o fino repertório aprimorado pela musicista nas composições de Living Torch (2020, Portraits GRM).

Feito sob encomenda pela gravadora da artista para uma performance utilizando o Acousmonium, um sistema de som com dezenas de alto-falantes articulados, Living Torch se divide em duas metades bastante características. Na primeira e mais extensa delas, Malone se concentra na apresentação dos elementos de forma bastante discreta. São pouco mais de 18 minutos em que a compositora, sempre acompanhada pelos músicos Mats Äleklint (trombone) e Isak Hedtjärn (clarone), utiliza de uma abordagem econômica, porém, deliciosamente hipnótica, como um lento desvendar de informações e delicadas paisagens instrumentais.

Entretanto, à medida que a canção avança, novos elementos são incorporados pela musicista. Utilizando de sintetizadores modulares e bases eletrônicas, Malone gradativamente amplia os horizontes da própria criação. São sobreposições sutis, quase imperceptíveis, o que induz ao transe. É como uma extensão natural de tudo aquilo que a instrumentista havia testado durante o lançamento do registro anterior, porém, partindo de uma abordagem parcialmente distinta, efeito das notas longas, sutileza e completa ausência de pressa, estrutura que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais da composição.

Com todos esses elementos apresentados, Malone abre passagem para a porção seguinte do registro. Menos contida em relação ao material entregue nos minutos iniciais do disco, Living Torch II se revela por completo logo em uma primeira audição. Marcada pelo uso destacado dos sintetizadores, a canção evidencia o que há de mais provocativo na obra da musicista estadunidense. São incontáveis camadas de ruídos e atravessamentos que crescem de forma descomunal, proposta que faz lembrar da parceria entre a harpista Mary Lattimore e o guitarrista Neil Halstead (Slowdive) no também ruidoso Silver Ladders (2020).

Claro que essa busca por um som intenso não impossibilita a artista de mergulhar em momentos de maior calmaria. E isso fica bastante evidente na segunda metade da composição, quando Malone e seus parceiros diminuem o ritmo para regressar ao mesmo território criativo explorados nos minutos iniciais do registro. Mesmo o uso dos sintetizadores, sempre colossais, ganham novo tratamento nas mãos da compositora. São movimentações contidas, como um necessário respiro, proposta que amarra as duas pontas do álbum de forma sensível, indicativo do completo domínio da instrumentista durante toda a execução do material.

Sereno e provocador na mesma proporção, Living Torch evidencia o equilíbrio criativo e capacidade da artista em testar os próprios limites mesmo em um curto intervalo de tempo. Diferente do material entregue no disco anterior, com quase duas horas de duração, Malone se concentra na formação de um repertório enxuto, mas não menos interessante. De fato, é como se instrumentista soubesse como organizar as próprias ideias de forma ainda mais coesa, resultando em um minucioso conjunto de elementos que vai calmaria ao caos em uma síntese clara de tudo aquilo que caracteriza o som produzido pela compositora.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.