Ano: 2024
Selo: Young
Gênero: Jazz
Para quem gosta de: Shabaka Hutchings e Robert Glasper
Ouça: Computer Love e The Garden Path
Ano: 2024
Selo: Young
Gênero: Jazz
Para quem gosta de: Shabaka Hutchings e Robert Glasper
Ouça: Computer Love e The Garden Path
Os excessos sempre fizeram parte obra de Kamasi Washginton. E isso fica bastante evidente desde que foi oficialmente apresentado com o lançamento de The Epic (2015), com 17 extensas composições que ganham forma em um intervalo de quase três horas de duração. Mesmo registros menores, como o EP Harmony of Difference (2017), não economizam nos detalhes, levando o ouvinte a percorrer diferentes gêneros, trilhas instrumentais e diálogos com incontáveis colaboradores que destacam a proposta maximalista do músico.
Quinto e mais recente álbum de Washington em carreira solo, Fearless Movement (2024, Young) talvez seja o primeiro disco do artista em que esses excessos mais atrapalham do necessariamente contribuem para o desenvolvimento do trabalho. Mesmo descrito pelo saxofonista como uma obra inspirada pela dança, o que se percebe ao longo do registro de doze canções é um material que atira para diferentes direções, contudo, acerta em pouquíssimas delas. São ideias ainda em formação, sempre curiosas, ainda que incompletas.
Exemplo disso pode ser percebido em todo o primeiro bloco de canções de Fearless Movement, quando os diálogos de Washington com diferentes parceiros criativos se tornam ainda mais explícitos e irregulares. Perfeita representação desse resultado acontece em Asha the First, um jazz funkeado que se completa pelo baixo de Thundercat e habituais coros de vozes aprimorados no antecessor Heaven and Earth (2018), mas que bruscamente muda de direção para mergulhar na inserção de um rap totalmente deslocado e confuso.
Já outras composições, como a conhecida Dream State, atmosférica parceria com André 3000, surgem de forma deslocada, como um respiro forçado que não devia estar ali. Mesmo preciosidades como Computer Love, destacando a voz irretocável de Patrice Quinn, aparecem espremidas em meio a canções de menor impacto. Um estranho desequilíbrio e evidente esforço de Washington em ampliar os próprios domínios, mas que acaba esbarrando em uma sequência de faixas inferiores à esperada grandeza do saxofonista.
Nada que a segunda metade do trabalho não de conta de solucionar. Do momento em que The Garden Path tem início, Washington mergulha em uma sequência de composições marcadas pela fluidez rítmica e maior aproximação dos arranjos. Mesmo curvas ocasionais, como na contemplativa Interstellar Peace (The Last Stance), são aplicadas com maior coerência, estrutura que acaba se refletindo até os momentos finais do disco, quando a crescente Prologue, com seus mais de oitos minutos, destaca o esmero do instrumentista.
Uma vez combinados, todos esses elementos resultam na entrega de uma obra irregular, porém, nunca desinteressante. Mesmo nos momentos de maior instabilidade ou excessivo desejo em emular o som de outros artistas, como em Get Lit, parceria com George Clinton e D Smoke, Washington mantém a barra do trabalho sempre elevada. São incontáveis paisagens instrumentais e estruturas rítmicas que jogam com a interpretação do ouvinte, indicando que esses movimentos destemidos do músico vão muito além do título.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.