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Ano: 2022

Selo: Smalltown Supersound

Gênero: Experimental, Eletrônica, Pós-Industrial

Para quem gosta de: Actress e Huerco S

Ouça: Sonic 8, Anadlu e Release

7.7
7.7

Kelly Lee Owens: “LP.8”

Ano: 2022

Selo: Smalltown Supersound

Gênero: Experimental, Eletrônica, Pós-Industrial

Para quem gosta de: Actress e Huerco S

Ouça: Sonic 8, Anadlu e Release

/ Por: Cleber Facchi 06/05/2022

Kelly Lee Owens sempre oscilou entre momentos de tímida experimentação e faixas prontas para as pistas. E isso ficou bastante evidente durante a produção o segundo trabalho de estúdio da produtora, cantora e compositora galesa, Inner Song (2020). Enquanto composições como Melt! e On pareciam convidar o ouvinte a dançar, outras, como a releitura de Arpeggi, do Radiohead, e Corner of My Sky, bem-sucedida colaboração com John Cale (The Velvet Underground), seguiam por um caminho totalmente oblíquo e imprevisível, indicando o esforço da artista em tensionar de forma expressiva os limites da própria criação.

Entretanto, ao mergulhar nas composições de LP.8 (2022, Smalltown Supersound), terceiro e mais recente trabalho de estúdio de Owens, o resultado proposto pela artista é bem diferente do esperado. Livre de respostas fáceis, a produtora se distancia por completo do uso de temas dançantes para investir em um repertório torto e exploratório. Canções marcadas pelo uso de maquinações sintéticas e ruídos metálicos que mudam de direção a todo instante. Fragmentos instrumentais e poéticos que funcionam como uma “exploração desenfreada do subconsciente criativo“, como explicou no texto de apresentação da obra.

Parte dessa mudança de direção vem da escolha de Owens em colaborar com o músico Lasse Marhaug em estúdio. Conhecido pelo trabalho em parceria com Sunn O))) e Jenny Hval, o artista norueguês auxilia a produtora galesa na formação de texturas, quebras e sedimentações ruidosas que garantem maior profundidade ao material. E isso fica bastante evidente na introdutória Release. Exatos cinco minutos em que somos soterrados pela permanente sobreposição dos elementos. São base industriais, batidas e vozes cíclicas que alcançam um ponto de equilíbrio entre a música de vanguarda do Throbbing Gristle e as ambientações etéreas de Enya, combinação que acaba se refletindo durante toda a montagem do trabalho.

Nesse sentido, livre de qualquer traço de linearidade, Owens entrega ao público uma obra que encanta muito mais pela jornada do que pela interpretação final. É como se o ouvinte, cúmplice da produtora, fosse convidado ao provar das mesmas inquietações e momentos de maior transgressão que se materializam ao longo da obra. Exemplo claro disso acontece em Anadlu. Pouco mais de oito minutos em que a artista galesa brinca com as sensações. Um misto de libertação e permanente opressão, conceito reforçado pelo uso atmosférico dos elementos em contraste à marcação densa, por vezes sufocante, que move a canção.

O problema é que nesse esforço em provar de diferentes possibilidades e novas direções criativas, Owens invariavelmente acaba percorrendo caminhos sem saída. São músicas como Quickening e a já conhecida One, em que parece dar voltas em torno de um mesmo conceito atmosférico melhor apresentado em Anadlu. A própria S.O (2), revelada logo nos minutos iniciais do disco, funciona como uma extensão da composição de mesmo nome que inaugura o primeiro trabalho de estúdio da produtora. Um misto de regresso e sutil transformação que pouco contribui para o desenvolvimento do registro de maneira geral.

Nada que diminua o impacto causado pela artista nos momentos de maior ruptura do disco. E isso fica bem representado na derradeira Sonic 8. Enquanto as vozes são trabalhadas em um misto de canto e rima, camadas de sintetizadores e batidas sujas ditam de maneira imprevisível os rumos da obra. O mesmo acontece na labiríntica Olga, faixa que resgata a essência etérea dos primeiros trabalhos da produtora, porém, de forma sutilmente desconfortável. Canções que orbitam um universo bastante particular de Owens, mas que crescem no uso de atravessamentos rítmicos, quebras e sobreposições pouco usuais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.