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Crítica

Kelly Moran

: "Moves In The Field"

Ano: 2024

Selo: Warp

Gênero: Experimental, Música Ambiente

Para quem gosta de: Holly Herndon e Kali Malone

Ouça: Butterfly Phase e Don't Trust Mirrors

7.8
7.8

Kelly Moran: “Moves In The Field”

Ano: 2024

Selo: Warp

Gênero: Experimental, Música Ambiente

Para quem gosta de: Holly Herndon e Kali Malone

Ouça: Butterfly Phase e Don't Trust Mirrors

/ Por: Cleber Facchi 30/04/2024

No início de 2020, enquanto o mundo começava a se recolher por conta da pandemia de Covid-19, Kelly Moran recebeu da Yamaha um piano Disklavier emprestado para que pudesse trabalhar em uma peça da compositora Missy Mazzoli. Diferente de outros instrumentos do gênero, o equipamento compartilhado com Moran possibilitou à instrumentista gravar múltiplas camadas que eram posteriormente incorporadas às performances ao vivo, gerando assim uma maior profundidade e riqueza ao processo de composição.

Inspirada pelo novo método de criação, Moran decidiu ir além e produzir um trabalho inteiro utilizando do piano que lhe foi emprestado. O resultado desse processo está na entrega de Moves In The Field (2024, Warp), material que reaproxima a compositora nova-iorquina de seus anos iniciais, estimulando um claro senso de descoberta, porém, preservando o aspecto experimental e esforço da artista em continuamente testar os limites da própria criação, vide registros como os anteriores Bloodroot (2017) e Ultraviolet (2018).

Conceitualmente falando, Moves In The Field utiliza de um tratamento bastante linear, com canções que se revelam aos poucos, detalhando o sempre meticuloso processo de criação da artista. Entretanto, basta um ouvido minimamente treinado para perceber que o tipo de som que se revela dentro de cada composição está longe de seguir uma abordagem humanamente possível de ser realizada por uma única pessoa. São incontáveis camadas instrumentais que aos poucos evidenciam as programações exploradas por Moran.

Música de abertura do trabalho, Butterfly Phase funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os pianos de Moran se revelam aos poucos, evidenciando uma densidade única e forte carga emocional, perceba como uma base cristalina corre ao fundo da canção, lembrando o minimalismo típico das produções de Aphex Twin em registros como Drukqs (2001). E ela é apenas o princípio de uma série de outras composições que delicadamente ampliam os horizontes sonoros da musicista nova-iorquina.

Em Don’t Trust Mirrors, por exemplo, Moran utiliza de uma abordagem tradicional e dramática, mas que vez ou outra “derrapa” em movimentos pouco usuais que levam a faixa para outras direções, como se a realidade proposta pela instrumentista fosse lentamente corrompida. Nada que inviabilize a entrega de composições dotadas de um direcionamento seguro. É o caso da já conhecida Sodalis (II), criação que encanta justamente ao se distanciar do restante da obra, como um mergulho em um ambiente acolhedor.

Independente da direção seguida pela compositora ao longo do trabalho, Moves In The Field é um material que merece ser apreciado com atenção e revisitado a fim de que todas as suas nuances sejam inteiramente absorvidas. Mesmo que algumas canções partilhem de uma abordagem bastante similar, efeito do natural minimalismo incorporado por Moran, sobrevive no uso de pequenos detalhes, acréscimos e rupturas sutis a passagem para uma obra que aos poucos muda de forma e leva o ouvinte a percorrer outros territórios.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.