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Crítica

Laurel Halo

: "Atlas"

Ano: 2023

Selo: Awe

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Kali Malone e Tim Hecker

Ouça: Belleville, Atlas e Earthbound

8.3
8.3

Laurel Halo: “Atlas”

Ano: 2023

Selo: Awe

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Kali Malone e Tim Hecker

Ouça: Belleville, Atlas e Earthbound

/ Por: Cleber Facchi 02/10/2023

Você nunca sabe exatamente o que esperar de Laurel Halo. De um trabalho para outro, a artista norte-americana pode ir de uma interpretação retorcida do pop para a música concreta sem necessariamente parecer inconsistente ou minimamente confusa. São quase sempre registros fechados, como pequenos estudos da compositora sobre um movimento ou gênero específico, como nas experimentações com a produção eletrônica, marca de Chance of Rain (2013), ou nas paisagens instrumentais de Raw Silk Uncut Wood (2018). Uma constante reinterpretação e fina desconstrução da própria identidade artística de Halo.

Mais recente trabalho de estúdio da musicista estadunidense, Atlas (2023, Awe) traz de volta uma série de elementos bastante característicos dos últimos registros de Halo, como os temas contemplativos, porém, partindo de um direcionamento totalmente reformulado. Convidada a participar de um programa nos estúdios Ina-GRM, na França, a compositora passou quase um ano imersa no estudo de pianos, design de som e experimentações com a música eletroacústica. Mais tarde, se uniu a um time formado por Bendik Giske (saxofone), James Underwood (violino), Lucy Railton (violoncelo) e Coby Sey (voz), em que se permitiu ampliar ainda mais os domínios da própria criação e finalizar o repertório do presente disco.

O resultado desse processo criativo está na entrega de uma obra essencialmente densa, porém, livre dos mesmos exageros tão característicos em outros exemplares do gênero. São composições que se resolvem em um intervalo de poucos minutos, como um contraponto ao ainda recente e bastante similar Does Spring Hide Its Joy (2023), de Kali Malone, que se estende por mais de três horas de duração. É como se Halo fosse capaz de condensar meses de estudo e décadas de referências em uma sequência de canções que mesmo livres de qualquer traço de imediatismo, parecem estreitar laços com o ouvinte sem grandes dificuldades.

Exemplo mais representativo disso fica bastante evidente na já conhecida Belleville. Escolhida por Halo para anunciar a chegada do registro, a canção de apenas dois minutos parte de uma base reducionista de pianos, porém, delicadamente abre passagem para a inserção de efeitos, arranjos de cordas e vozes que transportam o som produzido pela musicista para um novo e delicado território criativo. Outra que chama a atenção é Earthbound, composição que funciona como um ponto de encontro para todos os elementos incorporados ao longo da trabalho, como um acumulo natural das experiências propostas pela artista.

Embora conciso, Atlas é um desses registros exploratórios que tendem ao regresso a fim de captar todas nuances e incontáveis camadas instrumentais detalhadas por Halo e seus parceiros de estúdio. Em Late Night Drive, por exemplo, são as sobreposições das cordas e uso de pequenos acréscimos que atiçam a curiosidade do ouvinte. Já em Sick Eros, a musicista avança em um campo soturno, ecoando como uma composição perdida de Bobby Krlic. A própria faixa-título do disco, com quase sete minutos de duração, é outra que encanta pela riqueza de detalhes e texturas que se escondem por entre as brechas do material.

Dessa forma, mesmo composições dotadas de uma abordagem bastante similar, como reinterpretações de uma base de pianos, ganham novas tonalidades e ampliam os limites da obra à medida que o trabalho avança. Como muitas das criações de Halo, Atlas é um registro feito para que o ouvinte se perca dentro dele. Canções que avançam em uma medida própria de tempo, estimulando uma audição atenta, porém, sempre gratificante. São fragmentos de vozes, pinceladas instrumentais e efeitos que mais uma vez evidenciam a capacidade da musicista em brincar com as possibilidades e encantar pelos detalhes.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.