Ano: 2025
Selo: Anti-
Gênero: Art Pop
Para quem gosta de: Lucrecia Dalt e ANOHNI
Ouça: Busca La Luz e Aún Te Quiero
Ano: 2025
Selo: Anti-
Gênero: Art Pop
Para quem gosta de: Lucrecia Dalt e ANOHNI
Ouça: Busca La Luz e Aún Te Quiero
Se em Miss Colombia (2020) Lido Pimienta parecia dialogar com uma parcela ainda maior do público em uma obra que celebrava a identidade afro-indígena a partir de uma perspectiva pop, com a chegada de La Belleza (2025, Anti-) a colombiana radicada canadense segue o caminho oposto. Hermética, a artista agora harmoniza elementos de música erudita e caribenha como forma de mergulhar nos próprios sentimentos.
E isso tem um motivo. Poucos meses após o lançamento de Miss Colombia, a artista estreou no Balé de Nova Iorque com Sky To Hold (2021), uma peça que misturava elementos de música folclórica com outros estilos da produção latina recente. Partindo dessa perspectiva, a musicista foi atrás do conterrâneo Owen Pallett (Lana del Rey, Taylor Swift) para investir em um repertório que dá destaque à voz e aos temas orquestrais.
Da mesma forma que no espetáculo de dança em que esteve envolvida, a compositora se organiza a partir de uma narrativa central, nesse caso, nove movimentos que tratam sobre a separação e reconciliação de um casal. A diferença em relação a outros trabalhos do gênero, normalmente ambientados em um cenário europeu, está na forma como Pimienta traz a obra para a península da Guajira, entre Colômbia e Venezuela.
O resultado desse processo está na construção de uma obra que rompe com a narrativa colonial na música orquestral, posicionando personagens indígenas como protagonistas de suas próprias narrativas. Mesmo a estrutura do trabalho parece acompanhar esse conceito, indo de uma abordagem profundamente europeia nos minutos iniciais para, posteriormente, evidenciar o uso de elementos, vozes e ritmos da cultura latina.
Nesse sentido, toda a porção inicial do registro, com músicas como Mango e Aún Te Quiero, funciona como um filtro para quem ansiava pelo mesmo pop latino de Miss Columbia. O ritmo é lento e a artista não faz a mínima questão de facilitar para antigos ouvintes. Entretanto, toda essa preparação, que compromete sim o andamento da obra, é compensada quando a percussão quente de El Dembow Del Tiempo abre passagem para a segunda metade do trabalho, evidenciando o domínio criativo de Pimienta sobre a própria criação.
“Que viva o Caribe, livre”, canta na derradeira Busca La Luz, composição que não apenas conclui a jornada sentimental, poética e instrumental do trabalho, como reforça a essência política da obra. Em um momento de crescente repressão à comunidade latina, especialmente nos Estados Unidos, onde Pimienta construiu boa parte de sua trajetória, La Belleza surge como manifesto sonoro de resistência, memória e afirmação cultural. Ao reivindicar o agora e reverenciar seus ancestrais, a artista não apenas confronta séculos de apagamento, mas reposiciona a produção erudita como espaço legítimo para dar voz aos marginalizados.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.