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Crítica

Liv.e

: "Girl In The Half Pearl"

Ano: 2023

Selo: In Real Life

Gênero: R&B, Neo-Soul

Para quem gosta de: KeiyaA e Yaya Bey

Ouça: Wild Animals, Ghost e Find Out

8.0
8.0

Liv.e: “Girl In The Half Pearl”

Ano: 2023

Selo: In Real Life

Gênero: R&B, Neo-Soul

Para quem gosta de: KeiyaA e Yaya Bey

Ouça: Wild Animals, Ghost e Find Out

/ Por: Cleber Facchi 22/02/2023

Como muitas das obras lançadas durante o período pandêmico, Couldn’t Wait to Tell You (2020), estreia da cantora e compositora norte-americana Hailee Olivia Williams, a Liv.e, é um registro que acabou passando despercebido por muita gente. Embora mereça uma audição minuciosa e tenha servido para atrair a atenção de nomes como Mount Kimbie e Piink Sifu, com quem veio colaborar posteriormente, você não regressar ao trabalho que revelou faixas como You the One Fish in the Sea e She’s My Brand New Crush para ser atraído pelo repertório de Girl In The Half Pearl (2023, In Real Life), mais novo álbum da artista.

Marcado pela fragmentação dos elementos, o sucessor de Couldn’t Wait to Tell You destaca o caráter exploratório da artista estadunidense. São canções que partem de uma abordagem bastante próxima do R&B tradicional, porém, destacam o uso de batidas tortas, vozes sempre carregadas de efeitos e bases irregulares que mudam de direção a todo instante. Contudo, para além do experimentalismo evidente, dialogando com as criações de artistas como KeiyaA e Yaya Bey, Liv.e encanta pela vulnerabilidade dos temas e versos confessionais que orientam a experiência do ouvinte até os minutos finais do registro.

Não estava segura o tempo todo / Eu sei que disse que não preciso de ajuda / Só quero voltar para casa“, desaba em Ghost. Primeira composição do disco a ser apresentada ao público, a faixa não apenas destaca o lirismo angustiado que consome o som produzido pela da artista texana, como reforça o direcionamento imprevisível que orienta a formação do registro. Enquanto a voz de Liv.e surge parcialmente submersa, alternando entre gritos, quebras e momentos de maior recolhimento, batidas inexatas rompem com a lógica cadenciada do R&B tradicional para mergulhar em um ambiente que vai do jazz ao drum and bass.

Entretanto, para cada momento de maior ruptura criativa, há sempre uma composição contrastante que destaca o lado acolhedor e menos complexo do registro. E isso fica bastante evidente logo na canção seguinte, Find Out. São ambientações sutis e sintetizadores cósmicos que se completam pela letra que trata de separação com sobriedade. “Acho que estou pronta para passar um precioso tempo sozinha / Eu espero que você saiba que eu te amo como nenhum outro“, confessa. É como se Liv.e partilhasse do mesmo aspecto emocional e entrega de SZA, utilizando dos próprios sentimentos para atrair a atenção do ouvinte.

Dessa forma, Liv.e se permite transitar por entre estilos e testar os próprios limites dentro de estúdio sem necessariamente fazer disso uma obra puramente abstrata. Exemplo disso acontece em Wild Animals, música em que trata sobre libertação sentimental na mesma medida em que esbarra no som torto de Earl Sweatshirt, com quem colaborou no curioso Feet of Clay (2019). “Vou ser aquela vadia para te contar pessoalmente / Que a maioria desses cães não merece uma refeição“, provoca em meio a batidas desniveladas e bases que se completam pelo piano de John Carroll Kirby, parceiro desde o disco anterior.

Descrito pela artista como um “autoexame“, conceito reforçado na imagem de capa, com Liv.e recolhida em um ambiente escuro, Girl In The Half Pearl utiliza de uma abordagem intimista e particular, mas que a todo momento estreita relações e estabelece diálogos emocionais. Com base nessa estrutura, a cantora mantém firme o controle do trabalho mesmo quando tende ao uso de pequenos excessos, como nas ambientações etéreas e parcial hermetismo que orienta a segunda metade do registro. Um jeito totalmente retorcido, porém, atrativo de tratar sobre temas e sentimentos há muito explorado em diferentes obras do gênero.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.