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Crítica

nill

: "Lógos"

Ano: 2019

Selo: Sound Food Gang

Gênero: Hip-Hop, Trap, R&B

Para quem gosta de: Diomedes Chinaski, Djonga e BK

Ouça: Regras da Loja e Descendente de Yasuke

7.8
7.8

“Lógos”, Nill

Ano: 2019

Selo: Sound Food Gang

Gênero: Hip-Hop, Trap, R&B

Para quem gosta de: Diomedes Chinaski, Djonga e BK

Ouça: Regras da Loja e Descendente de Yasuke

/ Por: Cleber Facchi 27/08/2019

Do universo conceitual detalhado em Regina (2017), Nill vai além. Em Lógos (2019, Sound Food Gang), segundo e mais recente álbum de estúdio do rapper jundiaiense, cada elemento do disco mostra a capacidade do artista em transitar por entre gêneros e diferentes temáticas, porém, preservando a própria identidade criativa. Um colorido catálogo de ideias que tem início na imagem de capa assinada pelo ilustrador Wagner Loud e segue em meio a versos delirantes, conflitos urbanos e melodias que vão do R&B ao trap, da vaporwave ao pop futurístico em uma estrutura deliciosamente torta.

Pontuado por questões existencialistas e filosóficas, conceito destacado logo no título da obra – do grego “pensamento”, “lógica” ou “razão” –, o trabalho parte de inquietações que bagunçam a mente do próprio artista para dialogar de maneira natural com o ouvinte. “Nosso reino vai aonde olhos não podem ver / Nós somos como fogo, e se o vento apagar? / O importante é: não deixei de tentar“, rima na inaugural faixa-título enquanto utiliza de citações a Kanye West e ambientações eletrônicas que parecem saídas da trilha sonora de Akira ou algum clássico esquecido da década de 1980.

Uma vez imerso nesse cenário marcado pelas referências, Nill vai de reflexões metafóricas, como em Descendente de Yasuke (“O deserto nos mudou, olha a caminhada / Limpa e transparente como água / Parece que o jogo deu uma mudada / A vida tentou bater e agora não arrumou nada“), ao uso de versos descritivos, sempre políticos, como no assalto fictício detalhado em Regras da Loja (“E aquela quando ‘cê escondeu o relógio / Eu lembro bem daquele dia / Fechou a janela do Focus / Aonde eu tô agora chovem sócios / Então feche a janela do RH‚ motivos próprios“). Uma criativa colisão de rimas que orienta a experiência do ouvinte até a derradeira Sessão 26.

Parte dessa força na construção dos versos vem da forte interferência de um time seleto de colaboradores. São parceiros de longa data, como Callister, responsável por parte dos versos em Bullet’s, terceira faixa do disco; ManoWill e Melk, em Jive; CrimeNow, na ótima Siri. Nada que se compare ao trabalho de BK na já citada Regras da Loja. Uma sequência de versos sóbrios, sempre densos e realistas, estrutura que naturalmente aponta para o trabalho do próprio artista carioca em obras recentes como Castelos & Ruínas (2016) e Gigantes (2018).

A mesma versatilidade na composição dos versos acaba se refletindo na forma como Nill orienta a base instrumental do disco. São fragmentos eletrônicos, batidas e sintetizadores atmosféricos, como um avanço claro em relação ao detalhamento lo-fi do álbum anterior. Exemplo disso está na base nostálgica de Mulher do Futuro Só Compra Online, música se espalha em meio beats e melodias enevoadas, como se saída de algum disco do Macintosh Plus ou outro nome recente da vaporwave. Surgem ainda faixas como a dançante Embalagens, colaboração com Nave Beatz que mergulha no mesmo disco-funk pegajoso de Random Access Memories (2013), último álbum de estúdio do Daft Punk.

Produto das ideias e experiências pessoais de Nill, Lógos mostra a tentativa do rapper paulista em se reinventar criativamente, porém, preservando a essência lírica detalhada nas canções de Regina. São pouco menos de 40 minutos em que o artista discute racismo, relacionamentos fracassados, o tédio da vida adulta e diferentes conflitos pessoais de forma leve e acessível, estrutura que vem sendo aprimorada desde o último ano, durante o lançamento da mixtape Good Smell (2018). Um evidente exercício de estilo, mas que em nenhum momento tende ao óbvio.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.