Ano: 2025
Selo: Republic
Gênero: Pop
Para quem gosta de: Charli XCX e Caroline Polachek
Ouça: What Was That, Shapeshifter e David
Ano: 2025
Selo: Republic
Gênero: Pop
Para quem gosta de: Charli XCX e Caroline Polachek
Ouça: What Was That, Shapeshifter e David
Poucas vezes antes Lorde pareceu tão expositiva e visceral quanto em Virgin (2025, Republic). A própria imagem de capa do trabalho, uma radiografia da pelve revelando ossos, metais e um DIU, torna isso ainda mais explícito. É como se, passado o período de insolação vivido no pop delirante de Solar Power (2021), a artista regressasse aos temas intimistas e versos dilacerantes que a revelaram no início da década passada.
Repleto de acenos para o repertório de Pure Heroine (2013) e Melodrama (2017), Virgin é um trabalho que dialoga com o passado da artista neozelandesa, mas em nenhum momento se repete. Parte desse resultado vem da escolha da cantora em se distanciar do antigo parceiro de produção, o músico Jack Antonoff, para estreitar laços com Jim-E Stack, produtor que já colaborou com nomes como Bon Iver e Caroline Polachek.
O resultado desse processo está na entrega de uma obra que preserva a essência da artista, porém utiliza de uma abordagem diferente, destacando o reducionismo dos elementos, posicionando as vozes sempre em primeiro plano e, consequentemente, a vulnerabilidade de Lorde. “Se eu a tivesse virgindade, teria te dado também”, canta em David, canção marcada por metáforas de violência afetiva e revelações íntimas.
E ela está longe de ser a única. Das memórias entrelaçadas em meio a delírios lisérgicos de What Was That, em que revisita um relacionamento marcado pelos excessos, passando sobre as reflexões sobre gênero, em Man Of The Year, sobram momentos de íntima exposição. A própria faixa de abertura, Hammer, com seus versos descritivos, funciona como uma síntese daquilo que a cantora busca desenvolver ao longo da obra.
São faixas que tratam sobre a redescoberta do próprio corpo, desejos e noites regadas a MDMA com uma naturalidade e entrega poucas vezes antes percebida nos trabalhos de Lorde. Mesmo quando Virgin perde parte da tração e mergulha em canções exageradamente minimalistas, como Current Affairs, Clearblue e GRWN, há sempre um fragmento poético que destaca a sensibilidade da artista. Nada que impossibilite a entrega de criações altamente dançantes, como Shapeshifter, em que incorpora elementos de UK garage.
Curioso notar que, mesmo marcado pelo intenso aspecto confessional, Virgin mantém firme o diálogo com diferentes parceiros criativos. São nomes como Blood Orange, Fabiana Palladino, Dan Nigro e Bon Iver que surgem durante toda a execução da obra, amparando a artista nos momentos de maior fragilidade. Mesmo atravessada por novos colaboradores, essa pluralidade jamais dilui a identidade de Lorde, pelo contrário, amplia seus contornos. É como um fino exercício de desapego e reconstrução, com a artista substituindo a idealização juvenil por um olhar maduro, por vezes desconcertante, mas sempre realista sobre si mesma.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.