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Crítica

Loreta Colucci

: "Antes Que Eu Caia"

Ano: 2023

Selo: Gravadora Experimental

Gênero: Art Pop, MPB

Para quem gosta de: Maria Beraldo e Juçara Marçal

Ouça: Amando Longe e Não Me Chama Pra Trampar

8.0
8.0

Loreta Colucci: “Antes Que Eu Caia”

Ano: 2023

Selo: Gravadora Experimental

Gênero: Art Pop, MPB

Para quem gosta de: Maria Beraldo e Juçara Marçal

Ouça: Amando Longe e Não Me Chama Pra Trampar

/ Por: Cleber Facchi 25/09/2023

A voz é a primeira coisa que ouvimos em Antes Que Eu Caia (2023, Gravadora Experimental) e ela nos acompanha durante toda a execução do primeiro trabalho de estúdio da cantora e compositora Loreta Colucci. “Antes que eu caia no lugar comum / De te odiar, me farei pó“, detalha a artista paulistana na introdutória , uma clara manifestação da forte carga emocional que invade a construção dos versos e se completa pela fina tapeçaria instrumental produzida, arranjada e orquestrada por Maria Beraldo, parceira de Colucci em cada uma das oito composições, todas bastante curtas, que se revelam ao longo do material.

Embora resolvidas em um intervalo de tempo bastante reduzido, evidente é a pertinência das temáticas escolhidas por Colucci. “Se vier de pose eu pito / Se tentar a boa eu grito / Não dei corda pra marmanjo se engraçar / Meu sorriso não é pra te convidar“, canta em Não Me Chama Pra Trampar, canção em que detalha os abusos que se escondem nos bastidores da indústria da música. A mesma força poética pode ser percebido na faixa seguinte, Bom Dia Mãe, porém, partindo sobre a lógica da aceitação. “Bom dia, mãe / Bom dia, pai / Não chorem mais / Essa sou eu“, canta em meio a orquestrações sempre caprichadíssimas.

São canções que partem de experiências pessoais, pequenas inquietações ou mesmo da ausência de respostas para sentimentos conflitantes. “Não é de se falar palavra quando se fala de adeus / É de… quê“, reflete em Não Falar Palavra, música que destaca o lado contemplativo do registro e ainda abre passagem para a melancolia fina de Amando Longe. Enquanto os versos detalham o lento afastamento de um casal (“O tempo manso passa calmo / Dando sentido à paisagem / Prefiro cartas de silêncio / A te ouvir pela metade“), orquestrações sutis se revelam em pequenas doses, como um complemento natural aos versos.

Embora parta de uma abordagem bastante sutil e sempre homogênea, regida em essência pelo encontro entre as voz de Colucci e as orquestrações de Beraldo, Antes Que Eu Caia estabelece pequenos desvios que ampliam os limites do trabalho. Exemplo disso fica bastante evidente com a chegada de Arte de Me Enganar. Completa pelas vozes de ANNÁ, o cavaquinho de Manuella Lopes e a percussão de Alfredo Castro, a composição cai no samba, rompe significativamente com o restante da obra, porém, destaca a versatilidade da artista paulistana em estúdio, soando como uma criação perdida de Rodrigo Campos.

Passado esse momento de maior ruptura criativa, como uma fuga do restante da obra, Algo Grande Me Vê, vinda logo em sequência, traz o disco de volta ao mesmo universo temático apontado pela artista logo nos minutos iniciais do trabalho. São pouco menos de dois minutos em que Colucci mais uma vez mergulha fundo nas próprias inquietações, medos e percepções. “Algo grande me vê / Algo grande me vê como sou / Algo grande me quer / Algo grande me tem e estou / Inteira, como sou“, canta. Um lento desvendar de sensações que se engrandece pela batida submersa e cordas dotadas de um existencialismo melancólico.

Toda essa combinação de elementos ainda abre passagem para a música de encerramento do trabalho, Gole Seco. Se por um lado a base instrumental pouco avança quando próxima de outras composições ao longo do registro, em se tratando dos versos, Colucci conduz o disco para um novo território criativo. São pequenos jogos de palavras que se completam pela participação da cantora e compositora baiana Jadsa. É como se a musicista paulistana fosse de encontro ao mesmo universo explorado pela convidada em Olho de Vidro (2021), porém, preservando a própria identidade e sutileza explícita desde a introdutória .

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.