Ano: 2024
Selo: Heart Swells
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Black Country New Road
Ouça: Feast of Tongues e A Psychic Wound
Ano: 2024
Selo: Heart Swells
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Black Country New Road
Ouça: Feast of Tongues e A Psychic Wound
Em um cenário dominado por bandas cada vez mais enxutas e uma predominância de artistas em carreira solo, os britânicos do Los Campesinos! são claramente um ponto fora da curva. Mais do que isso, o coletivo formado em 2006, na cidade de Cardiff, no País de Gales, segue tão relevante e interessante hoje quanto na época de sua fundação. Exemplo mais representativo disso pode ser percebido no poderoso repertório de All Hell (2024, Heart Swells), primeiro trabalho de inéditas do grupo galês após um intervalo de sete anos.
Sequência ao material entregue em Sick Scenes (2017), All Hell concentra todos os elementos que fizeram do grupo de Cardiff um dos mais importantes da segunda metade dos anos 2000. De canções feitas para serem cantadas a plenos pulmões, passando pela potência das guitarras e batidas ascendentes, mais uma vez o grupo formado por Gareth David Paisey, Neil Turner, Tom Bromley, Kim Paisey, Jason Adelinia, Rob Taylor e Matt Fidler consegue equilibrar a potência das apresentações ao vivo com o capricho de estúdio.
A diferença em relação aos antigos trabalhos do coletivo, como os emergenciais Hold on Now, Youngster… (2008) e We Are Beautiful, We Are Doomed (2008), está na forma como o grupo utiliza de uma abordagem ainda mais contemplativa. Mesmo que canções como a enérgica Holy Smoke (2005) e A Psychic Wound sejam percebidas ao longo do material, prevalece em All Hell a entrega de músicas que se articulam em uma medida própria de tempo. Composições que avançam aos poucos, sem pressa, envolvendo o ouvinte.
Exemplo mais representativo disso pode ser percebido na crescente Feast Of Tongues. São pouco mais de cinco minutos em que arranjos de cordas, harmonias de vozes e toda uma ampla tapeçaria instrumental é tecida e revelada ao público até que a letra da composição atinja seu ápice, reforçando o lirismo político do grupo. “Ao som do Hino Nacional / De um país que não sobreviveu / Em uma língua que aprendi e esqueci / Eu ficarei em casa, manterei o jardim vivo”, canta Paisey em tom épico, reforçando a grandeza da canção.
Embora se revele ao público em pequenas doses e perca parte significativa do ritmo já no segundo bloco de canções, All Hell mantém o domínio e capacidade de hipnotizar o ouvinte durante toda sua execução. Sempre que começa a perder fôlego, percepção reforçada pelos diferentes interlúdios e alongados atos instrumentais, há sempre um ponto de ruptura que culmina na formação de composições marcadas pelo direcionamento catártico, como To Hell in a Handjob, um dos claros destaques do disco, e 0898 Heartache.
Mesmo quando desacelera momentaneamente, vide composições como Long Throes e kms, All Hell nunca deixa de impressionar o ouvinte. Das guitarras melódicas e coros de vozes que invadem a introdutória The Coin-Op Guillotine à vulnerabilidade explícita nos versos da derradeira Adult Acne Stigmata, tudo parece perfeitamente calculado pelo grupo. É como se o coletivo galês aplicasse todo o conhecimento acumulado nas últimas duas décadas, porém, preservando a intensa carga emocional e entrega de seus realizadores.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.