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Crítica

Lost Girls

: "Selvutsletter"

Ano: 2023

Selo: Smalltown Supersound

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Julia Holter e U.S. Girls

Ouça: With The Other Hand e Ruins

7.4
7.4

Lost Girls: “Selvutsletter”

Ano: 2023

Selo: Smalltown Supersound

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Julia Holter e U.S. Girls

Ouça: With The Other Hand e Ruins

/ Por: Cleber Facchi 23/01/2024

Mesmo quando busca por uma sonoridade acessível, Jenny Hval está longe de seguir o caminho mais fácil. Segundo e mais recente álbum de estúdio do Lost Girls, projeto compartilhado com o multi-instrumentista Håvard Volden, Selvutsletter (2023, Smalltown Supersound) funciona como uma boa representação desse direcionamento adotado pela cantora e compositora norueguesa. São canções que a todo momento flertam com a música pop, porém, estabelecem na escolha de temas contemplativos e estruturas pouco usuais o estímulo para a formação de um repertório que conduz o ouvinte para direções totalmente inimagináveis.

Com Timed Intervals como música de abertura, Hval e Volden entregam ao público uma composição que se revela aos poucos, em pequenas doses. São camadas de sintetizadores e batidas calculadas que seguem de onde a dupla norueguesa parou há dois anos, durante o lançamento de Menneskekollektivet (2021). É como um lento desvendar de informações que ainda abre passagem para a chegada da posterior With The Other Hand, canção que destaca a poética atmosférica da musicista, porém, sustenta no refrão pegajoso um claro elemento de diálogo com o ouvinte, como uma simplificação do que foi entregue no registro anterior.

Embora busque por um repertório menos hermético, Hval e o parceiro de composição a todo momento mergulham na entrega de faixas que levam o disco para outras direções. Terceira música do álbum, Ruins funciona como uma boa representação desse resultado. Em um claro flerte com o pós-punk, a canção ainda chama a atenção pelo uso de pequenos acréscimos e sobreposições instrumentais que parecem jogar com a interpretação do ouvinte. É como uma intensa combinação de elementos, ritmos e vozes que, infelizmente, acaba rompida pelo freio reducionista que se estabelece em Re-entering the City, vinda logo em sequência.

A partir desse ponto, Selvutsletter segue um percurso irregular, alternando entre composições etéreas e faixas que destacam a potência do som produzido pela dupla norueguesa. Enquanto algumas soa como respiros momentâneos, caso de World On Fire, apontando para os primeiros discos de Hval em carreira solo, outras evidenciam a combinação de estilos gerada pelo encontro entre os dois artistas. Com quase sete minutos de duração, Jeg Slutter Meg Selv exemplifica isso de forma eficiente. São Inserções poéticas e instrumentais que avançam em uma medida particular de tempo, mas que explodem nos instantes finais.

O mais interessante talvez seja perceber que, para cada composição que destaca o experimentalismo da dupla norueguesa, há sempre uma contraparte que leva o trabalho para outras direções. Não por acaso, passada a entrega de Jeg Slutter Meg Selv, música que destaca o que há de mais provocativo no som do Lost Girls, June 1996 segue o caminho oposto. Em um intervalo de mais de quatro minutos, vozes e arranjos acolhedores parecem transportar o ouvinte diretamente para os anos 1990, como uma canção perdida de nomes como The Cranberries, The Cardigans e outros artistas que atraíram a atenção do grande público.

Para o encerramento do disco, Hval e Volden mais uma vez seguem o caminho oposto ao som explorado na canção anterior. Com o título de Seawhite, a derradeira criação da dupla norueguesa ganha forma em um intervalo de quase dez minutos de duração. São ambientações sutis que naturalmente dialogam com outras faixas previamente reveladas ao público, como Re-entering the City e World on Fire, porém, partindo de uma abordagem ainda mais contida, por vezes meditativa. Um tensionar constante das possibilidades torna a experiência de ouvir o repertório de Selvutsletter totalmente incerta até os momentos finais do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.