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Crítica

Lucrecia Dalt

: "A Danger to Ourselves"

Ano: 2025

Selo: Rvng Intl.

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Mabe Fratti e Astrid Sonne

Ouça: Cosa Rara e The Common Reader

8.0
8.0

Lucrecia Dalt: “A Danger to Ourselves”

Ano: 2025

Selo: Rvng Intl.

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Mabe Fratti e Astrid Sonne

Ouça: Cosa Rara e The Common Reader

/ Por: Cleber Facchi 14/10/2025

Como tudo aquilo que Lucrecia Dalt tem produzido desde o início da década, A Danger to Ourselves é um álbum que avança em uma medida própria de tempo. Apesar da completa ausência de pressa, esse talvez seja o registro mais imediato da musicista colombiana. E não poderia ser diferente. Da escolha dos temas à construção dos versos, tudo gira em torno das experiências pessoais, dores e vulnerabilidades da cantora.

Parte desse resultado vem do próprio processo de criação do trabalho. Gravado em um estúdio caseiro na região do Novo México, onde reside atualmente, a musicista contou com o suporte do companheiro David Sylvian, ex-integrante da banda Japan e coprodutor do disco. O resultado desse processo está na entrega de uma obra marcada pelo evidente aspecto confessional, com Dalt no centro das próprias composições.

No espelho é a mesma coisa / Tão divina / Você vê o acúmulo da sua vida / Minha vida”, canta em Divino, faixa em que reflete sobre o processo de desconstrução e redescoberta da própria identidade. É como se Dalt, sempre centrada na elaboração de obras cinematográficas, detalhando tramas, cenas e personagens aleatórios, pela primeira vez, cantasse sobre suas próprias experiências, estreitando laços com o ouvinte.

Embora convidativo do ponto de vista poético, com Dalt alternando entre versos cantados em espanhol e inglês, A Danger to Ourselves exige tempo até ser absorvida por completo. Assim como no antecessor ¡Ay! (2022), a compositora se concentra na sobreposição de texturas, ambientações minimalistas e elementos percussivos que mais ocultam as informações dentro do álbum do que oferecem um resultado imediato.

Se por um lado esse direcionamento moroso tende a prejudicar o desenvolvimento do trabalho, por outro, garante ainda mais destaque aos momentos de maior grandeza da obra. É o caso de The Common Reader, parceria com Juana Molina, em que evoca a potência de artistas como Tom Waits e Fiona Apple. A própria Cosa Rara, colaboração com Sylvian que inaugura o disco, destaca a força e dinamismo de Dalt em estúdio.

Surgem ainda preciosidades como Caes, em conjunto com Camille Mandoki, e No Death No Danger, com ares de composição perdida de Laurie Anderson, que ampliam os limites do material. Um delicado jogo de sensações que não apenas potencializa uma série de elementos testados nos antigos trabalhos da cantora, como estabelece na força dos sentimentos uma clara expansão de tudo aquilo que define a obra de Dalt.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.