Ano: 2025
Selo: Independente
Gênero: Neo-Soul, Jazz
Para quem gosta de: Xênia França e Céu
Ouça: Apocalipse, Outono e Pavão
Ano: 2025
Selo: Independente
Gênero: Neo-Soul, Jazz
Para quem gosta de: Xênia França e Céu
Ouça: Apocalipse, Outono e Pavão
Se em Um Mar Pra Cada Um (2025) Luedji Luna exigia tempo e gratificava o ouvinte com a entrega de um disco marcado pela imersão, em Antes Que A Terra Acabe (2025, Independente) a cantora e compositora baiana segue o caminho oposto. Como quem emerge de um longo mergulho, a artista agora toma fôlego e vai direto ao ponto no trabalho que chega de surpresa, pouquíssimos dias após o registro que o antecede.
Inaugurado pela potente Apocalipse, o trabalho diz a que veio logo nos primeiros minutos. Canção que dá nome ao disco, a música não apenas destaca a força dos versos compartilhados entre a artista e Seu Jorge (“Antes que a terra acabe / Quero me acabar nela”), como a produção atenta de Fejuca e a imensidão dos arranjos orquestrados por Arthur Verocai. Tudo é grandioso, denso, mas, ainda assim, bastante sensível.
Sobrevive justamente nessa força avassaladora de sentimentos tão intimistas a real beleza de Antes Que A Terra Acabe. O que antes era oculto, sussurrado ou lentamente digerido em Um Mar Pra Cada Um, agora se revela por completo. Nesse sentido, a poesia vulnerável do registro anterior dá lugar a um álbum marcado pela potência dos versos, evidenciando um eu lírico que explora abertamente as contradições do amor.
“Seduzo pra me entreter”, confessa a artista em Pavão, faixa que ainda se abre para as rimas de MC Luanna e da norte-americana Rapsody. São versos que se entregam ao desejo de maneira consciente, reforçando a urgência explícita no próprio título do disco. “É mero requinte / O que você quer fazer / Pura sacanagem mesmo / O que queremos fazer”, canta em Requinte, música em que oscila entre a excitação e a desilusão.
Claro que essa ardência, tão característica do intenso repertório de Antes Que A Terra Acabe, não interfere na entrega de faixas marcadas pela sutileza. É o caso de Bonita, preciosa criação em que recebe e celebra Alaíde Costa, uma das precursoras da bossa nova, de maneira bastante respeitosa. O próprio encontro com o jazzista Robert Glasper, na derradeira Outono, é outra que emociona o ouvinte pela completa delicadeza.
Todos esses elementos garantem ao público uma obra não apenas equilibrada, mas que dialoga e completa o que foi iniciado com Um Mar Pra Cada Um. Mesmo atravessado por canções como Iôiô e Farol da Barra, que parecem mais orientadas ao afro-pop-baiano de Um Corpo no Mundo (2017), a maneira como a artista trabalha a atmosfera de Antes Que A Terra Acabe torna tudo compatível com o que foi há pouco revelado no lançamento anterior. Duas metades de uma mesma narrativa, iguais na intensidade, opostas na forma.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.