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Crítica

Mabe Fratti

: "Sentir Que No Sabes"

Ano: 2024

Selo: Unheard of Hope

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Julia Holter e Lucrecia Dalt

Ouça: Kravitz, Enfrente e Pantalla Azul

8.5
8.5

Mabe Fratti: “Sentir Que No Sabes”

Ano: 2024

Selo: Unheard of Hope

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Julia Holter e Lucrecia Dalt

Ouça: Kravitz, Enfrente e Pantalla Azul

/ Por: Cleber Facchi 12/07/2024

Mabe Fratti passou os últimos cinco anos pulando de um projeto para outro sem qualquer possibilidade de descanso. De registros autorais, como Pies Sobre La Tierra (2019), Será Que Ahora Podremos Entendernos (2021) e Se Ve Desde Aquí (2022), passando por obras colaborativas, caso do ainda recente Vidrio (2023), no duo Titanic, e A Time to Love, a Time to Die (2023), junto do coletivo Amor Muere, sobram trabalhos que destacam a potência criativa e permanente reinvento da cantora, compositora e violoncelista guatemalteca.

Apesar da produção contínua, Fratti, que hoje reside no México e é parte importante da cena experimental do país, parece cada vez mais longe de se acomodar. Exemplo disso fica bastante evidente em Sentir Que No Sabes (2024, Unheard of Hope). Mais recente álbum de estúdio da musicista, o registro produzido em colaboração com o parceiro Hector Tosta consegue tanto ser o trabalho mais experimental e complexo da artista, quanto sua obra mais convidativa e concisa, estreitando laços com uma nova parcela de ouvintes.

Parte desse resultado vem do esforço da compositora em investir na entrega de um repertório ainda mais expositivo, transformando conflitos internos em uma poderosíssima ferramenta de diálogo com o público. “Talvez alguém esteja do outro lado da parede / Conheça minhas reações / Para me dar instruções“, canta logo nos minutos iniciais do trabalho, em Kravitz, composição que trata sobre a sensação de paranoia que se apodera da artista, sempre buscando tangibilizar musicalmente o que parece difícil de ser explicado.

Dessa forma, Fratti estabelece um estranho senso de familiaridade com o ouvinte ao mesmo tempo em que se permite criar as peças instrumentais mais absurdas como base para as composições. Em Enfrente, por exemplo, são camadas de sintetizadores que se completam pela percussão metálica e totalmente inexata. Já na derradeira Angel Nuevo, arranjos de cordas avançam de forma quase opressiva pela faixa, criando uma sensação de sufocamento e desconforto que a todo momento se conecta aos versos atormentados da obra.

Nada que impossibilite a construção de faixas menos carregadas, como pequenos bolsões de respiro ao longo do trabalho. É o caso de Pantalla Azul, canção que partilha do mesmo lirismo introspectivo, porém, estabelece na delicadeza dos arranjos e vozes a passagem para um novo território criativo. E ela não é a única. Em Olídos, são cordas ecoadas que evocam Arthur Russell e metais estrategicamente posicionados, criando uma doce sensação de acolhimento que faz lembrar do mesmo pop desajustado de Julia Holter.

Vem dessa capacidade de Fratti em alternar entre momentos de maior experimentação e faixas dotadas de uma fragilidade quase quebradiça a real beleza de Sentir Que No Sabes. São instantes de calmaria e caos, porém, trabalhados em uma abordagem deliciosamente imprevisível, sendo impossível antecipar qualquer mínimo movimento da artista. É como um acumulo natural de tudo aquilo que a musicista tem explorado nos últimos anos e, ao mesmo tempo, um exercício de ruptura que leva o material para outras direções.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.