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Crítica

Magdalena Bay

: "Mercurial World"

Ano: 2021

Selo: Luminelle Recordings

Gênero: Pop, R&B, Synthpop

Para quem gosta de: Kero Kero Bonito e Grimes

Ouça: Chaeri, You Lose! e Secrets (Your Fire)

8.2
8.2

Magdalena Bay: “Mercurial World”

Ano: 2021

Selo: Luminelle Recordings

Gênero: Pop, R&B, Synthpop

Para quem gosta de: Kero Kero Bonito e Grimes

Ouça: Chaeri, You Lose! e Secrets (Your Fire)

/ Por: Cleber Facchi 20/10/2021

Memórias empoeiradas de um passado distante, fragmentos de cultura de internet, referências nostálgicas e letras sempre pegajosas. Em Mercurial World (2021, Luminelle Recordings), primeiro álbum de estúdio do Magdalena Bay, dupla californiana formada por Mica Tenenbaum (voz) e Matthew Lewin (produção), cada elemento parece pensado de forma a transportar o ouvinte para um mundo de sensações e estímulos audiovisuais. Do uso das vozes à escolha dos sintetizadores, da identidade visual ao material de divulgação, inspirado em sites do início dos anos 2000, tudo cumpre uma função dentro do universo mágico da banda.

Parte desse evidente domínio criativo e maior consistência na montagem do álbum vem de um longo processo de preparação e amadurecimento técnico por parte da dupla. Muito embora Mercurial World seja apresentado como o primeiro disco da banda, Tenenbaum e Lewin estão longe de parecer iniciantes. São mais de cinco anos de atuação e um vasto catálogo de lançamentos autorais que transitam por diferentes campos da música de forma sempre curiosa. Registros como o ainda recente A Little Rhythm and a Wicked Feeling (2020), que funciona como um laboratório para o material agora finalizado pelos dois artistas.

E isso se reflete na forma como cada composição serve de passagem para a música seguinte. Responsável pela mixagem do disco, Lewin, que também assina a produção e toca todos os instrumentos ao longo da obra, estende a execução das faixas de forma que tudo esteja conectado. O resultado desse processo está na entrega de um material conceitualmente amplo, efeito direto da criativa colagem de ideias e referências recicladas pela dupla, porém, pensado como parte de um exercício único e homogêneo. Instantes em que os dois artistas preservam e pervertem tudo aquilo que foi apresentado nos lançamentos anteriores.

Nesse sentido, cada composição apresentada ao longo da obra funciona como um precioso objeto de estudo nas mãos da dupla. São canções formadas a partir de retalhos instrumentais, sobreposições e diferentes abordagens estéticas, porém, sempre fundamentadas na música pop. Dessa forma, é possível perceber desde ecos de Mariah Carey, no R&B de Prophecy, como diálogos inusitados com a produção eletrônica, marca da derradeira The Beginning, registro que não apenas fecha o ciclo iniciado às avessas na introdutória The End, como amplia consideravelmente o campo de atuação do duo californiano.

São quatro ou mais décadas de referências cuidadosamente selecionadas, recortadas e remontadas dentro do colorido território criativo que define o material apresentado em Mercurial World. Canções que vão de um canto a outro da música pop sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra confusa. De fato, passada a atmosférica composição de abertura, cada música do álbum assume uma função específica. Registros como as já conhecidas Hysterical Us, Secrets (Your Fire), Chaeri e a crescente You Lose! que ora convidam o ouvinte a dançar, ora refletem os sentimentos mais profundos e honestos de Tenenbaum.

Vem justamente dessa capacidade da dupla em transitar por entre estilos de forma sempre equilibrada a real beleza do registro. Observado de maneira atenta, não há nada em Mercurial World que nomes como Kero Kero Bonito, Grimes e tantos outros artistas recentes já não tenham testado de forma talvez mais expressiva. Porém, tudo se resolve de forma tão sensível e coesa que é difícil não se sentir atraído pelo álbum logo em uma primeira audição. Composições que parecem dançar pelo tempo, revivem memórias esquecidas e continuam a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.