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Crítica

Malu Maria

: "Nave Pássaro"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock, Synthpop

Para quem gosta de: Tatá Aeroplano e Letrux

Ouça: A Língua Trava, Luz Lilás e Pássaro

8.2
8.2

Malu Maria: “Nave Pássaro”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock, Synthpop

Para quem gosta de: Tatá Aeroplano e Letrux

Ouça: A Língua Trava, Luz Lilás e Pássaro

/ Por: Cleber Facchi 29/03/2024

Nave Pássaro (2024, Independente) é uma obra diferente de tudo aquilo que Malu Maria havia revelado anteriormente. Embora partilhe do mesmo refinamento técnico explícito nos antecessores Diamantes na Pista (2018) e Ella Terra (2020), o que se percebe no registro de nove faixas é a passagem para um novo território criativo. Canções que partem de uma poética onírica e talvez escapista, porém, estabelecem na firmeza das batidas e íntima relação com as pistas um forte diálogo com a realidade e o próprio ouvinte.

Parte desse resultado vem da clara aproximação gerada entre a cantora e o produtor Dustan Gallas, com quem havia colaborado no ainda recente Boate Invisível (2023), último trabalho de Tatá Aeroplano e uma espécie de álbum-irmão de Nave Pássaro. Dessa forma, enquanto Mallu se concentra na formação dos versos, sempre guiada por um pássaro que lhe apareceu em um sonho, Gallas investe na construção das batidas e bases, lembrando as colaborações entre Giorgio Moroder e Donna Summer na década de 1970.

Outra dimensão / Nova percepção“, repete a cantora em Nave, deliciosa composição em que sintetiza esse caráter exploratório da obra, como um convite a se perder em um universo de formas flutuantes e batidas que delicadamente conduzem o ouvinte em direção às pistas. São canções que se estendem pelo tempo que precisam durar, como se a artista e o companheiro de produção avançassem aos poucos, sem pressa, o que não necessariamente prejudica o ritmo e evidente fluidez explícita em todo o repertório do álbum.

Posicionada logo nos minutos iniciais do trabalho, A Língua Trava funciona como uma boa representação desse resultado. Inaugurada em meio a sintetizadores etéreos, a canção lentamente destaca a formação das batidas, entalhes percussivos e guitarras funkeadas que apontam para a obra de Michael Jackson na fase Off The Wall (1979), porém, preservando a identidade da cantora. É como um preparativo para o que se revela de forma inda mais interessante em Luz Lilás e Pássaro, essa última, uma verdadeira viagem com mais de dez minutos de duração, diferentes curvas e propostas criativas que ampliam os limites do disco.

Claro que essa busca de Mallu por um repertório dançante e libertador em nada inviabiliza a entrega de faixas marcadas pelo forte aspecto contemplativo. É o caso de No Fundo do Rio, música que lembra os momentos de maior calmaria do Daft Punk em Random Access Memories (2013), como um necessário elemento de contraste. A própria canção de abertura, Abrem-se os Portais, mesmo incapaz de traduzir a real beleza do registro, evidencia esse lado contido da artista, como um aceno para os antigos trabalhos.

Embora essenciais para o equilíbrio da obra, são justamente esses instantes de suavidade que rompem com a fluidez do disco. É o caso de No Olho do Dragão, composição que, mesmo bem executada, ecoa de maneira deslocada, como uma curva desconfortável dentro do trabalho. Nada que as faixas seguintes não deem conta de resolver. Momentos de calmaria que instantaneamente desembocam em canções maiores, indicando o dinamismo e força criativa que rege a viagem proposta pela cantora até os minutos finais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.