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Crítica

Mateus Aleluia

: "Mateus Aleluia"

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Afro-Folk, MPB

Para quem gosta de: Lia de Itamaracá e Cátia de França

Ouça: Pantera Negra e No Amor Não Mando

8.5
8.5

Mateus Aleluia: “Mateus Aleluia”

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Afro-Folk, MPB

Para quem gosta de: Lia de Itamaracá e Cátia de França

Ouça: Pantera Negra e No Amor Não Mando

/ Por: Cleber Facchi 28/05/2025

No amor não mando / Me mando amor / Quando o amor me manda / Eu sigo e vou”, canta Mateus Aleluia logo nos primeiros minutos de No Amor Não Mando, composição que inaugura o quinto registro do músico baiano em carreira solo. São pouco mais de nove minutos em que arranjos produzidos em parceria com a dupla formada por Tadeu Mascarenhas e Tenille Bezerra ganham forma aos poucos, sem pressa, como um complemento natural aos versos que funcionam como um mergulho nos sentimentos do artista de 81 anos.

Com a direção apontada nos minutos iniciais, Aleluia se encaminha para a elaboração de faixas cada vez mais extensas, ainda que musicalmente reducionistas. São movimentos calculados de violão que se abrem para a sutil inserção de outros elementos. Canções geradas a partir da combinação de diferentes músicas, como em Doce Sacrifício / Filho / Acalanto, com seus mais de 14 minutos de arranjos e vozes trabalhadas em uma medida própria de tempo. Um avanço vagaroso, por vezes arrastado, porém, sempre fascinante.

Exemplo disso fica ainda mais evidente quando nos deparamos com Lua / Luar, Outra Face do Sol. Embora curta quando próxima de outras canções reveladas ao longo da obra, a música de sete minutos destaca o capricho e lenta inserção de cada instrumento. Enquanto a voz de Aleluia concede ritmo à faixa, perceba como o uso ocasional de sopros e o dedilhado atento de Pedro de Castro ampliam os horizontes do álbum.

É como um preparativo para o que se revela na principal faixa do disco, Pra Tentar Te Esquecer / Pantera Negra / Jogo de Engano. Com mais de 12 minutos de duração, a música de acabamento melancólico segue a trilha confessional apontada em No Amor Não Mando, porém encanta pela forma como Aleluia incorpora outras temáticas, como as questões raciais que tem explorado desde os trabalhos com Os Tincoãs. Mais do que isso, a canção se abre para a inserção de novos instrumentos que potencializam a entrega do artista.

Essa mesma grandiosidade na elaboração dos arranjos volta a se repetir na composição seguinte, Márua. Assim como a canção que a antecede, a música destaca a relação do artista com a própria negritude. São versos que combinam existencialismo e ancestralidade de maneira bastante sensível, como uma extensão daquilo que o cantor baiano havia testado em obras como Olorum (2020) e Afrocanto das Nações (2021).

Escolhida para o encerramento do disco, Oh, Música! / Aleluia não apenas finaliza a obra com excelência, como conclui a jornada sentimental, racial e pessoal do artista por meio da reconexão com a música. Um exercício autobiográfico, mas que nunca deixa de dialogar com o ouvinte, efeito da natural sensibilidade poética de Aleluia e cuidado na elaboração dos arranjos que se reflete até os momentos finais do álbum.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.