Ano: 2024
Selo: The Flesner
Gênero: Rock, Slowcore
Para quem gosta de: Ethel Cain e Vyva Melinkolya
Ouça: Rock N Roll Never Forgets, Killdozer e Droving
Ano: 2024
Selo: The Flesner
Gênero: Rock, Slowcore
Para quem gosta de: Ethel Cain e Vyva Melinkolya
Ouça: Rock N Roll Never Forgets, Killdozer e Droving
Os mais de sete minutos de Rock N Roll Never Forgets, música de abertura em No Depression In Heaven (2024, The Flesner), são essenciais para entender a direção explorada por Madeline Johnston no quarto e mais recente trabalho de estúdio do Midwife. Enquanto camadas de guitarras se revelam ao público em pequenas doses, vozes enevoadas e cíclicas, como um mantra abafado, compõem a atmosfera soturna que orienta a experiência do ouvinte até os momentos finais, na também contemplativa faixa-título do registro.
Feito para ser absorvido aos poucos, sem pressa, o sucessor de Luminol (2021) também foi concebido por Johnston dessa forma. Parcialmente composto na parte de trás de vans, durante as turnês da artista pelos Estados Unidos, e posteriormente finalizado em casa, o registro parte de um olhar entristecido da própria realizadora sobre a efemeridade da vida e os personagens passageiros que encontram ao longo de nossas jornadas. “Eu nunca estive aqui para ficar”, canta em Droving, música que sintetiza parte dessa melancolia.
São canções profundamente dolorosas, ainda que sóbrias, como um mergulho na mente e dores vividas por Johnston. “Todas as minhas músicas são canções de amor / Todas as minhas músicas são tristes / Todas as minhas músicas são sobre a morte”, confessa em Killdozer, faixa em que reflete sobre o próprio processo de criação e estabelece um diálogo honesto com o ouvinte. É como se a artista, para além da dor romantizada por nomes como Lana Del Rey, apenas compartilhasse seus sentimentos de maneira realista e documental.
Claro que isso não interfere na construção de faixas marcadas pelo lirismo atencioso de Johnston, sempre conectada a indivíduos tão reais quanto idealizados. “Quando penso em você, penso na Flórida / Lembro-me do nosso dia ao Sol / Eu sabia que sempre te amaria / E eu sempre soube que você fugiria”, canta em Vanessa, música que parte de um cenário e personagens descritivos, mas que aos poucos se confunde em meio a delírios enevoados e frações poéticas que compõem um doloroso exercício de exposição emocional.
Embora parta de uma abordagem melancólica, No Depression In Heaven em nenhum momento pesa sobre o ouvinte de maneira excessiva e até tem seus instantes de maior leveza. A própria escolha de Johnston em regravar Better Off Alone funciona como uma boa representação disso. Originalmente lançada pelo grupo holandês Alice Deejay em 1999 e redescoberta por conta de um sucesso recente no TikTok, a composição surge como um respiro necessário, ainda que preserve a mesma atmosfera soturna do restante do álbum.
Essa forte aproximação entre as faixas é tanto uma virtude de Johnston como um dos principais problemas de No Depression in Heaven. Salve exceções, como a base melódica que surge ao fundo de Killdozer, não há nada aqui que a guitarrista já não tenha testado em outras obras como Midwife ou mesmo no recente encontro com Vyva Melinkolya, em Orbweaving (2023). São pequenas repetições estruturais que reduzem a sensação de ineditismo em torno do disco, mas nunca a força avassaladora e doce melancolia dos versos.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.