Ano: 2024
Selo: Concord
Gênero: Jazz, Soul, MPB
Para quem gosta de: Wayne Shorter e Lianne La Havas
Ouça: Saudade Dos Aviões Da Panair e A Day In The Life
Ano: 2024
Selo: Concord
Gênero: Jazz, Soul, MPB
Para quem gosta de: Wayne Shorter e Lianne La Havas
Ouça: Saudade Dos Aviões Da Panair e A Day In The Life
O fascínio de Esperanza Spalding sobre a obra de Milton Nascimento não é de agora. Desde que a cantora, compositora e baixista norte-americana teve contato com o trabalho do músico por conta da parceria com o conterrâneo Wayne Shorter, em Native Dancer (1975), Spalding sempre buscou diferentes maneiras de incorporar as criações do artista de alma mineira, como em 2008, quando deu vida ao segundo álbum de estúdio da carreira, Esperanza, e passou a ter aulas de português para interpretar a canção Ponta de Areia.
Dessa forma, ao mergulhar no repertório do colaborativo Milton + Esperanza (2024, Concord), não estamos de posse de uma obra do acaso, mas de um álbum que levou décadas sendo preparado por Spalding. Com a felicidade e a sensação de desafio de um discípulo que reencontra seu mestre, a instrumentista costura um repertório que vai de faixas como Outubro, originalmente gravada no primeiro disco de Nascimento, a todo um conjunto de músicas inéditas que buscam replicar a atmosfera dos grandes trabalhos do cantor.
Mais do que isso, Milton + Esperanza se revela como um espaço de acolhimento e conforto para o músico. Hoje aposentado dos palcos e nitidamente debilitado por conta da idade, o carioca de 81 anos é o tempo todo amparado pela norte-americana, que desacelera para acompanhar o cantor ou mesmo complementar as pequenas rachaduras na voz do artista. Os próprios registros de diálogos entre os dois colaboradores em diversos momentos da obra tornam isso ainda mais explícito, evidenciando o carinho de Spalding.
Claro que esse direcionamento comedido em nada interfere na entrega de canções grandiosas. É o caso da preciosa releitura de A Day In The Life, dos Beatles. Amante confesso do quarteto de Liverpool, o autor de Para Lennon e McCartney surge totalmente liberto na composição que ainda valoriza o vocal impecável de Spalding. Outra que fascina é Saci, faixa de atmosfera folclórica que se completa pela presença de Guinga, um dos responsáveis pela música, mas que causa arrepio na gargalhada assombrosa do próprio Milton.
Sobrevive justamente nesses encontros com diferentes artistas alguns dos momentos de maior fragilidade da obra. Enquanto músicas como Saudade Dos Aviões Da Panair (Conversando No Bar), em parceria com Lianne La Havas, Maria Gadú, Tim Bernardes e Lula Galvão, parecem envolver e potencializar a voz hoje limitada de Nascimento, outras, como em Wings for the Thought Bird, com Elena Pinderhughes, deixam o brasileiro em segundo plano, rompendo com a abordagem colaborativa explícita no título do material.
O próprio volume excessivo de composições, estendendo o registro e o esforço de Nascimento para além do necessário, é outro componente bastante prejudicial para o desenvolvimento do álbum. Exemplo disso fica evidente na morna colaboração com o músico Paul Simon, em Um Vento Passou, e na arrastada Morro Velho, com a Orquestra Ouro Preto. São mudanças de percurso que acabam distanciando o ouvinte do que há de mais interessante ao longo do disco: os encontros e o afeto compartilhado entre Milton e Esperanza.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.