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Crítica

Mitski

: "Laurel Hell"

Ano: 2022

Selo: Dead Oceans

Gênero: Indie Rock, Art Pop

Para quem gosta de: Japanese Breakfast e St. Vincent

Ouça: Working for the Knife e The Only Heartbreaker

8.3
8.3

Mitski: “Laurel Hell”

Ano: 2022

Selo: Dead Oceans

Gênero: Indie Rock, Art Pop

Para quem gosta de: Japanese Breakfast e St. Vincent

Ouça: Working for the Knife e The Only Heartbreaker

/ Por: Cleber Facchi 07/02/2022

Havia uma sensação de dever cumprido quando Mitski deu vida ao elogiadíssimo Be The Cowboy (2018). Depois de uma sequência da álbuns em busca da própria identidade, caso de Lush (2012) e Retired from Sad, New Career in Business (2013), e do início da parceria com o co-produtor Patrick Hyland, que resultou em trabalhos como Bury Me at Makeout Creek (2014) e o maduro Puberty 2 (2016), a japonesa naturalizada estadunidense parecia pronta para enfrentar os próprios conflitos e se assumir como protagonista em uma obra marcada pela ressignificação de sentimentos e temas historicamente associados a homens brancos.

Não por acaso, passado o intenso processo de divulgação do trabalho, que contou com uma série de apresentações lotadas, a artista desativou os próprios canais oficiais e desapareceu. “É hora de ser humana novamente. E ter um lugar para morar”, escreveu em um comunicado divulgado à imprensa. Afinal, que direção seguir após o lançamento de uma obra tão significativa? A resposta para essa pergunta talvez seja encontrada nadas canções de Laurel Hell (2021, Dead Oceans), primeiro trabalho de estúdio de Mitski em quatro anos e princípio de uma nova identidade artística que vai da construção dos arranjos aos versos.

Produto do isolamento vivido pela cantora nos últimos anos, o trabalho parte de conflitos sentimentais para mergulhar em temas como solidão, prazer feminino, tristeza e transformação pessoal, porém, utilizando de uma poesia marcada pela forte vulnerabilidade, como um mudança em relação ao material entregue no disco anterior. “Vamos pisar com cuidado no escuro / Uma vez que entrarmos, eu lembrarei do meu caminho / Quem serei esta noite?“, questiona na introdutória Valentine, Texas, música que evidencia o desejo da artista em avançar criativamente, porém, ainda presa ao material entregue em Be The Cowboy.

São canções que confessam sentimentos, medos e inquietações de forma sempre sensível, estreitando a relação com o ouvinte a cada nova confissão de Mitski. “Então, eu serei a perdedora nesse jogo / Eu serei o cara mau na peça / Eu serei o cano principal de água que está estourando e inundando / Você estará na janela, apenas observando“, detalha em The Only Heartbreaker, música que sintetiza parte da fluidez dos elementos e profunda entrega durante toda a execução do material. É como se a cantora seguisse de onde parou em composições como Washing Machine Heart, porém, de forma ainda mais intimista e dolorosa.

Como contraponto a esse resultado consumido pelas emoções, Mitski reforça o uso de sintetizadores e relação com a música pop de forma bastante expressiva. São faixas como Love Me More e Stay Soft em que se permite dialogar com uma parcela ainda maior do público. Claro que isso não interfere na produção de composições ainda íntimas dos antigos trabalhos da cantora. É o caso de Working For The Knife, música que encolhe e cresce a todo instante, como um regresso ao material entregue em Puberty 2. A própria letra da canção, menos voltada ao uso de conflitos sentimentais, potencializa esse resultado. “Eu costumava pensar que terminaria aos vinte / Agora, aos vinte e nove, a estrada à frente parece a mesma“, reflete.

Mesmo consistente e resolvido de forma interessante quando próximo do material apresentado em Be The Cowboy, não há como ignorar que muitos dos elementos explorados em Laurel Hell utilizam de uma abordagem bastante similar ao material entregue em outras obras de transição. Da substituição das guitarras pelos sintetizadores ao refinamento dado às melodias, parte expressiva do registro evoca elementos testados em álbuns como Masseduction (2017), de St. Vincent, e My Woman (2016), de Angel Olsen. É como um caminho seguro e previsível, proposta que poderia resultar em um trabalho fadado ao esquecimento, porém, solucionado pelo evidente domínio lírico e entrega sentimental de Mitski.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.