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Crítica

Nala Sinephro

: "Endlessness"

Ano: 2024

Selo: Warp

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Nubya Garcia e Floating Points

Ouça: Continuum 1, Continuum 6 e Continuum 10

8.5
8.5

Nala Sinephro: “Endlessness”

Ano: 2024

Selo: Warp

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Nubya Garcia e Floating Points

Ouça: Continuum 1, Continuum 6 e Continuum 10

/ Por: Cleber Facchi 20/09/2024

A jornada transcendental iniciada por Nala Sinephro em Space 1.8 (2021) está longe de chegar ao fim. Três anos após o lançamento do primeiro trabalho de estúdio, a multi-instrumentista belga radicada em Londres está de volta com mais um delicado álbum de inéditas, Endlessness (2024, Warp). São dez composições em que a musicista de Bruxelas e um seleto time de colaboradores se aventuram com esmero na montagem de um repertório marcado pelo uso de emanações cósmicas e sempre meticulosas paisagens instrumentais.

Inaugurado por Continuum 1, o trabalho, que tem produção assinada pela própria instrumentista, diz a que veio logo nos primeiros minutos. Enquanto Sinephro detalha camadas de sintetizadores, a bateria sutil de Morgan Simpson, do Black Midi, concede ritmo à canção que ainda se completa pelo saxofone de James Mollison, um dos membros do Ezra Collective. Não se trata de algo urgente, mas muito mais imediato em relação ao disco anterior, conceito que segue até a composição seguinte, Continuum 2, ainda mais direta.

Claro que essa busca por um repertório menos contemplativo não interfere na montagem de composições puramente atmosféricas. É o caso da meditativa Continuum 3, faixa que combina a harpa de Sinephro com os sintetizadores de Lyle Barton, soando como uma canção perdida de Laraaji nos anos 1980. A própria Continuum 4, com suas vozes submersas e efeitos, é outra que contribui ainda mais para esse resultado, abrindo passagem para Continuum 5, música que conduz o ouvinte para a segunda metade do trabalho.

A partir desse ponto, Sinephro começa a ficar cada vez mais imprevisível e consequentemente fascinante. Não por acaso, com a chegada de Continuum 6, composição em que recebe a saxofonista Nubya Garcia, a artista leva o trabalho para outras direções, brincando com a intensa sobreposição dos elementos, ritmos e formas instrumentais. Pena que esse mesmo capricho não seja percebido na faixa seguinte, Continuum 7, música que soa como uma extensão menos inspirada e totalmente previsível da canção que a antecede.

Nada que Continuum 8 não dê conta de solucionar. Mais uma vez rodeada por um time de instrumentistas, Sinephro rompe com os temas atmosféricos de Space 1.8 para investir no uso de pequenos acréscimos. Da bateria imprevisível de Natcyet Wakili ao jogo dos sintetizadores, tudo parece pensado para expandir os horizontes da artista. É como um lento desvendar de sensações, proposta que só silencia com a chegada de Continuum 9, delicada criação que, mais uma vez, destaca a abordagem contemplativa da musicista belga.

Embora anticlimático, o recuo em Continuum 9 tem sua função. É como um respiro que antecede a intensa combinação de estilos explorada em Continuum 10. São pouco menos de sete minutos em que Sinephro novamente concede destaque à bateria de Wakili, porém posiciona os próprios sintetizadores em primeiro plano. O resultado desse processo está na entrega de uma composição que não apenas resgata diferentes elementos testados ao longo da obra, como pontua de forma catártica a jornada proposta em Endlessness.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.