Ano: 2025
Selo: Hyperdub
Gênero: Eletrônica, Experimental
Para quem gosta de: Burial e Aya
Ouça: War Games, Anticipate e Core
Ano: 2025
Selo: Hyperdub
Gênero: Eletrônica, Experimental
Para quem gosta de: Burial e Aya
Ouça: War Games, Anticipate e Core
Se em Guerrilla (2020) Alcides Simoes, o Nazar, usou a música para reprocessar as experiências vividas pela própria família durante a Guerra Civil Angolana (1975 – 2002), em Demilitarize (2025, Hyperdub), o produtor trava uma luta interna. Acometido pela tuberculose, enquanto passava por um tratamento contra a infecção de Covid-19, o artista radicado em Amsterdã se deparou com a fragilidade da própria existência e a inevitável relação com a morte, elementos centrais para a elaboração temática do registro de dez faixas.
Assim como em Guerrilla, Nazar continua a se aprofundar na desconstrução do kuduro, um dos principais estilos musicais da Angola, porém, partindo de uma abordagem ainda mais abstrata, torta e delirante. São ambientações etéreas que esbarram em meio a texturas e fragmentos de vozes, como uma materialização sonora do conceito de alma, componente temático que povoa e orienta parte das canções em Demilitarize.
Um meticuloso exercício criativo que usa de conceitos metafísicos e filosóficos, porém sempre amparados por elementos da cultura pop. O próprio Nazar reforçou no texto de apresentação do trabalho a influência de filmes como Ghost In The Shell (1995) para a criação do álbum. Dessa forma, mesmo quando tende ao etéreo, o angolano mantém sempre um mecanismo de contato com a realidade e diálogo com o ouvinte.
Primeira composição do disco a ser revelada ao público, em fevereiro deste ano, Anticipate funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco menos de três minutos em que o artista brinca com as texturas e o uso de ambientações enevoadas, porém sempre interessado em incorporar elementos de R&B. A própria Open, com batidas em destaque e maior linearidade, é outra que chama a atenção do ouvinte.
Embora pontuado por momentos acessíveis, é quando tende ao completo experimentalismo que o produtor garante ao público algumas de suas melhores criações. É o caso de War Games, um emaranhado de vozes, texturas, sintetizadores e sensações. O mesmo direcionamento labiríntico ganha ainda mais destaque com a chegada de Heal, composição que mais parece uma criação assinada em conjunto entre Burial e Actress.
Nesse esforço em escapar do óbvio, Nazar surpreende pela completa ruptura da realidade, porém esbarra em canções tão imprecisas que mais parecem um amontoado de ideias ainda incompletas. São faixas como Mantra e Disarm que, mesmo curiosas, parecem incapazes de exercer o mesmo fascínio experienciado no restante do trabalho. Ainda assim, é nesse constante tensionar entre clareza e abstração que Demilitarize encontra sua força. Uma obra que se revela menos pela lógica e mais pelas sensações que busca causar.
Ouça também:
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.