Ano: 2024
Selo: QTV
Gênero: Experimental
Para quem gosta de: Ava Rocha e Juçara Marçal
Ouça: Date My Age, Me Esculacha e Online Agora
Ano: 2024
Selo: QTV
Gênero: Experimental
Para quem gosta de: Ava Rocha e Juçara Marçal
Ouça: Date My Age, Me Esculacha e Online Agora
O desejo transborda em Rela (2024, QTV). Primeiro disco de Negro Leo em quatro anos, o sucessor de Cac Cac Cac (2020) e Desejo de Lacrar (2020) destaca o esforço do cantor e compositor maranhense em mais uma vez transitar por diferentes estilos, ritmos e propostas criativas, porém, estabelece na relação com o sexo uma preciosa ferramenta da aproximação entre as faixas. São composições que vão das experiências geradas em telas de aplicativos de relacionamento ao que há de mais provocativo e delicioso no ato carnal.
Verdadeira orgia para os ouvidos, o trabalho que conta com produção de Renato Godoy e contribuições de nomes como Lcuas Pires, Mbé, Kiko Dinnucci e Os Fita, diz a que veio logo nos minutos iniciais, em Date My Age. Enquanto a letra da canção busca por sexo ao citar nominalmente alguns dos principais aplicativos de relacionamento, camadas instrumentais, sobreposições de vozes e batidas se entrelaçam em uma delirante combinação de elementos, tornando impossível prever qualquer novo movimento do músico maranhense.
São composições maximalistas e totalmente abstratas, destacando os habituais improvisos que há tempos marcam o trabalho de Negro Leo, mas que evidenciam em Rela uma homogeneidade poucas vezes antes percebida em outros registros apresentados pelo artista. Da escolha dos timbres ao uso da percussão que destaca os diferentes sotaques do boi maranhense, tudo se revela de maneira essencialmente ampla, ainda que sempre aproximada. É como se cada nova canção abrisse passagem para a música seguinte do disco.
O mais fascinante talvez seja perceber que, mesmo marcado pelo intenso atravessamento de informações, Rela se resolve em um intervalo de pouquíssimos minutos. São canções curtas, ainda que profundamente complexas. É o caso de Online Agora, música que combina a devassidão dos versos com uma descomunal soma de sintetizadores, fragmentos de vozes e batidas que arremessam o ouvinte de um canto a outro da obra. Composições marcadas pelo aspecto orgânico, como se seguissem um conjunto de regras próprias.
Em Got To Please, por exemplo, são vozes cíclicas que aos poucos se abrem para a inserção dos arranjos e toda uma fina tapeçaria instrumental que destaca o habitual capricho do músico e seus parceiros. Já em Me Esculacha, são fragmentos rítmicos que vão da percussão nortista ao R&B em uma abordagem tão suja, quanto provocante. Surgem até criações como a inusitada Te Amo, um pagodão baiano que destaca o que há de mais acessível no álbum, como uma fuga temporária do artista em relação ao restante do trabalho.
Embora marcado pela multiplicidade de estilos, Rela nunca foge ao controle do artista. É como se o músico soubesse exatamente que direção seguir, ambientando tudo em um mesmo território criativo regido pelo sexo. Claro que, vez ou outra, pequenas repetições líricas e estruturais aparecem ao longo da obra, como na recorrência de Gordinha Canibal e outros elementos temáticos. São desajustes pontuais, mas que em nenhum momento diminuem a capacidade de Negro Leo em surpreender, seduzir e provocar o ouvinte.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.