Para a produção do terceiro álbum de inéditas da carreira, My Method Actor (2024, Ninja Tune), Nilüfer Yanya decidiu seguir uma proposta diferente. Em estúdio, apenas ela e o produtor Will Archer, com quem tem colaborado desde a estreia com Miss Universe (2019), tiveram acesso ao material que foi gestado em conjunto pelos dois artistas. O resultado desse processo está na entrega de uma obra reducionista em se tratando dos arranjos, porém imensa na forma como a cantora britânica explora os próprios sentimentos.

Conceitualmente inspirado pelos momentos de transição e diferentes identidades que adotamos ao longo da vida, My Method Actor ganha uma camada extra de profundidade ao detalhar o esforço de Yanya em confrontar a personagem assumida nos palcos e aquela interpretada na vida real. “Espere, estou indo para suas / Complicações / Suas mutações”, canta em Mutations. A própria imagem de capa, com a musicista se encarando no espelho, funciona como uma boa representação desse direcionamento temático do material.

Embora expositiva e profundamente honesta em seu processo de composição, conceito reforçado durante o lançamento do álbum anterior, Painless (2022), é como se a cantora, pela primeira vez, se revelasse por completo para o público. “Não consigo tocar a minha alma / Não consigo encontrar o que está lá … Lindas cicatrizes / É tudo o que ela tem”, reflete em Ready for Sun (Touch), uma de suas criações mais vulneráveis. São canções que orbitam um universo particular, mas que a todo momento estreitam laços com o ouvinte.

Nesse sentido, o acabamento econômico dado aos arranjos concede aos versos ainda mais destaque. Como indicado logo nos minutos iniciais do álbum, em Keep on Dancing, são guitarras cíclicas que se completam pelo uso calculado da bateria, posicionando as vozes de Yanya em primeiro plano. Canções que seguem de onde a artista havia parado no disco anterior, porém partindo de uma abordagem essencialmente tocante e meticulosa, tratamento reforçado em músicas como Call It Love e a contemplativa Made Out Of Memory.

Claro que essa moderação excessiva tem lá seus riscos. Uma vez ambientado aos temas e estruturas que orientam a formação do disco, não é difícil perceber as rachaduras e pequenas repetições de My Method Actor. São composições como Just a Western, Faith’s Late e Wingspan que mais parecem versões menos interessantes daquilo que a britânica havia testado criativamente durante a primeira metade do trabalho.

Não por acaso, sobrevive nos momentos em que mais se distancia dessa abordagem contida a passagem para algumas das melhores faixas do disco. É o caso de Method Actor e Like I Say (I Runaway), dobradinha que parte de uma formatação contida, dialogando com o restante do registro, mas que se deixa consumir pela força avassaladora das guitarras, texturizando a suavidade dos arranjos. Um jogo de pequenas tensões que sutilmente destaca a complexidade instrumental, lírica e emocional que move a obra da artista inglesa.

Ouça também: