Ano: 2024
Selo: Seloki Records
Gênero: Art Pop, MPB
Para quem gosta de: Dora Morelenbaum e Tori
Ouça: Sua, Caricatura e Inteira
Ano: 2024
Selo: Seloki Records
Gênero: Art Pop, MPB
Para quem gosta de: Dora Morelenbaum e Tori
Ouça: Sua, Caricatura e Inteira
Verdadeiro exercício de autodescoberta e construção da própria identidade artística, Inteira (2024, Seloki Records) cumpre com louvor a tarefa de apresentar o trabalho de Nina Maia. Feito para ser absorvido aos poucos, sem pressa, o álbum foi gestado da mesma maneira, a partir de experimentações ao vivo, diálogos com o coprodutor Yann Dardenne e certezas acumuladas pela musicista durante a escolha do repertório.
Com Caricatura como faixa de abertura, Maia apresenta parte das regras que irão nortear o trabalho. São composições marcadas pelo reducionismo dos elementos, porém, sempre precisas, destacando a força das vozes que alternam entre temas existenciais e momentos de maior vulnerabilidade emocional. “Se ergueu sobre dor/ E espera o amor / Que ninguém soube lhe dar”, canta a artista. É como um lento desvendar de sensações e possibilidades, direcionamento reforçado na posterior Kaô, música que não apenas evoca o Radiohead em All I Need, como ainda evidencia a força da banda de apoio formada pelos músicos Thalin (bateria), Valentim Frateschi (baixo), Francisca Barreto (violoncelo) e Thales Hashiguti (viola e violino).
Uma vez ambientado a esse cenário marcado pela precisão dos elementos, cada nova composição acaba se transformando em um objeto de estudo para Maia. Em Mar Adentro, por exemplo, a mineira radicada em São Paulo se aventura pelo samba, porém, preservando o acabamento eletrônico, proposta que faz lembrar de Marisa Monte em Universo Ao Meu Redor (2006). Nada que a canção seguinte, a já conhecida Sua, não dê conta de perverter, soando como um encontro soturno entre Portishead e Milton Nascimento.
Embora trilhe diferentes percursos, combinando elementos sintéticos e orgânicos, Maia nunca rompe com o que parece ser um limite bem definido durante toda a execução do trabalho. Da construção das batidas à escolha dos timbres e lenta inserção dos instrumentos, tudo gira em torno de um mesmo universo criativo. Dessa forma, é possível ir do trip-hop labiríntico de Menininha à MPB econômica de Amargo, colaboração com Chica Barreto, sem que essas pequenas mudanças de percurso sejam encaradas de forma desconexa.
Claro que esse cuidado excessivo e forte aproximação entre as composições tem lá seus riscos. É como se o álbum fosse impossibilitado de alcançar a mesma grandeza explícita nas apresentações ao vivo da cantora. Exemplo disso fica bastante evidente em Salto de Fé, canção que mesmo marcada pela complexidade dos arranjos, melodias e vozes, está longe de alcançar em estúdio a potência explícita por Maia em cima dos palcos. Falta ao disco um momento de maior ruptura ou que surpreenda o ouvinte pela imprevisibilidade.
Ainda assim, Inteira segue como um fascinante exercício criativo até os minutos finais. Com a faixa-título como canção de encerramento, Maia continua a transitar por diferentes estilos e propostas criativas com uma naturalidade única. Frações poéticas e instrumentais que vão da música brasileira ao pop, do jazz à produção eletrônica de forma sempre caprichada, proposta que faz do álbum um precioso cartão de visita.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.