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Crítica

Nyron Higor

: "Nyron Higor"

Ano: 2025

Selo: Far Out Recordings

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Bruno Berle e Ítallo

Ouça: São Só Palavras e Me Vestir de Você

8.2
8.2

Nyron Higor: “Nyron Higor”

Ano: 2025

Selo: Far Out Recordings

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Bruno Berle e Ítallo

Ouça: São Só Palavras e Me Vestir de Você

/ Por: Cleber Facchi 07/02/2025

Passagem para um universo particular, o autointitulado segundo álbum Nyron Higor é uma dessas obras que encantam sem necessariamente fazer esforço. São dez composições que destacam a sensibilidade do cantor e compositor alagoano, estreitam laços com conterrâneos como Bruno Berle e Batata Boy, com quem divide a produção do disco, mas em nenhum momento rompem com uma lógica própria do instrumentista que estreou há três anos com o contido Fio de Lâmina (2022) e retorna agora para ampliar seus horizontes.

Com Ciranda como composição de abertura, Higor apresenta parte dos elementos que serão explorados no decorrer do registro. São ambientações sutis que passam pela música brasileira, mas em nenhum momento rompem com o que parece ser uma lógica própria do instrumentista, sempre orientado pelo reducionismo dos elementos. Exemplo disso fica ainda mais evidente com a chegada de Louro Cantador, canção em que incorpora o canto de um papagaio como alternativa aos vocais, porém, preservando a sutileza do trabalho.

Essa mesma delicadeza no processo de composição do registro fica ainda mais explícito com a chegada de Demo Love. Curtinha, como grande parte das canções que integram o disco, a música consegue, mesmo em um intervalo de pouco mais de um minuto, destacar o refinamento aplicado aos sintetizadores e melodias submersas. É como um ensaio para o que se revela de forma ainda mais interessante em São Só Palavras, faixa que cresce de maneira bastante evidente mesmo na rápida participação de Berle e da cantora Alici.

Vem justamente desse aspecto colaborativo o estímulo para uma das principais músicas do trabalho, Estou Pensando Em Você. Enquanto a base cíclica ganha forma aos poucos, destacando o uso dos pianos, batidas e arranjos acústicos, versos compartilhados com Johanna evidenciam a melancolia fina que, vez ou outra, eclode ao longo do registro. Nada que Maravilhamento, com versos transcendentais de Nathalia Grilo, não dê conta de romper, levando o material para outras direções, vide o flerte breve do alagoano com o jazz.

Passado esse momento de evidente grandeza, Som 24 traz de volta o mesmo reducionismo do restante do material. São batidas talvez econômicas, mas que se completam pelo instrumental caprichoso das guitarras que passeiam com liberdade ao longo da faixa. Pena que esse mesmo cuidado no processo de composição não se aplique a Pizzicato, canção que mais parece um esboço quando próxima de outras músicas da obra. Entretanto, sempre que começa a perder fôlego, o artista se ergue com alguma criação ainda mais preciosa.

É o caso de Eu Te Amo, faixa de acabamento minimalista, mas que cresce no lirismo confessional que toma conta dos versos. Sobrevive nesse romantismo acentuado o estímulo para a derradeira Me Vestir de Você. Escolhida para o encerramento do disco, a canção traz de volta a mesma atmosfera de músicas como São Só Palavras e Louro Cantador, porém, estabelece na construção da letra um delicado exercício criativo que não apenas estreita laços com o ouvinte, como revela a força dos sentimentos que movem a obra de Higor.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.