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Crítica

Paira

: "EP01"

Ano: 2024

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock, Eletrônica

Para quem gosta de: Terno Rei e Adorável Clichê

Ouça: Música Lenta, Como Um Rio e O Fio

8.2
8.2

Paira: “EP01”

Ano: 2024

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock, Eletrônica

Para quem gosta de: Terno Rei e Adorável Clichê

Ouça: Música Lenta, Como Um Rio e O Fio

/ Por: Cleber Facchi 10/06/2024

Como pode tamanha carga emocional caber dentro de uma obra tão curta? Em um intervalo de 16 minutos, os integrantes do Paira, dupla mineira formada por Clara Borges e André Pádua, não apenas transitam por diferentes temáticas que se aprofundam em tormentos bastante característicos de qualquer jovem adulto, como ainda utilizam de um amplo catálogo de ritmos, incontáveis referências criativas e outros elementos estéticos que potencializam as experiências sentimentais dissolvidas em EP01 (2024, Balaclava Records).

Sozinha / Eu não sei mais me encontrar“, confessa Borges logos nos minutos iniciais da obra, em Música Lenta, composição que, diferente do apontado no próprio título, avança para cima do ouvinte com uma ferocidade absurda, escancarando as angústias e temas instrumentais que orientam o trabalho da dupla mineira. São batidas fragmentadas e urgentes, como um aceno para o breakcore/drum and bass produzido na década de 1990, porém, sempre acompanhadas pela intensa inserção de guitarras altamente melódicas.

E isso é só o começo. Com a chegada de O Fio, minutos à frente, as preferências permanecem as mesmas, contudo, a direção explorada pela dupla é outra. Agora em colaboração com o produtor Adieu, o duo belo-horizontino se aprofunda na construção de um material marcado pelo uso de microambientações e batidas reducionistas, mas que explodem nos momentos certos. Instantes em que os dois artistas esbarram na obra de veteranos do gênero, como Sweet Trip e The Postal Service, porém, preservando a própria identidade.

Menos urgente em relação ao material entregue nos minutos iniciais do trabalho, Leve mais uma vez revela o esforço da dupla em brincar com as possibilidades dentro de estúdio. Com as batidas em segundo plano, o destaque fica por conto do uso das vozes, sempre mergulhadas em momentos de melancolia, e guitarras que destacam o refinamento estético dos dois artistas. São delicadas paisagens instrumentais, proposta que avança em direção aos temas labirínticos do pós-rock e ainda abre caminho para a posterior Como Um Rio.

Tão delicada quanto a composição que a antecede, a música partilha do mesmo direcionamento melódico, porém, traz de volta a fluidez das batidas que inauguram o trabalho. “Ninguém quis ficar e ninguém ficou / Limitados como um dia / Agora é muito tarde pra te convencer“, cresce a letra da canção que mais uma vez se aprofunda em questões românticas, mas que utiliza da metafórica reflexão sobre a passagem do tempo e o sempre delicado uso de componentes geográficos para se esquivar de um resultado talvez monotemático.

Passado esse intenso atravessamento de informações, diferentes ritmos e propostas criativas, 19 chega para encerrar o trabalho de forma reducionista. Com a voz em primeiro plano, camadas de guitarras e batidas correm ao fundo da canção, sempre discretas, destacando a formação dos versos que mais uma vez tratam de relacionamentos instáveis. Um misto de dor e doce libertação, como uma síntese poética da contrastante combinação de sentimentos que delicadamente embala o trabalho da dupla do princípio ao fim da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.