Ano: 2024
Selo: Chumbo Grosso
Gênero: Rock Progressivo
Para quem gosta de: Kaatayra e Hermeto Pascoal
Ouça: Boitatá e Rito de Coroação
Ano: 2024
Selo: Chumbo Grosso
Gênero: Rock Progressivo
Para quem gosta de: Kaatayra e Hermeto Pascoal
Ouça: Boitatá e Rito de Coroação
As harmonias de vozes e atmosfera bucólica de Acende a Luz: I. Alquimia, música de abertura em Lampião Rei (2024, Chumbo Grosso), torna o óbvio bastante explícito: em seu segundo álbum de estúdio, a Papangu segue um caminho completamente distinto em relação ao material entregue no trabalho anterior, Holoceno (2021). Fortemente orientado ao jazz e aos ritmos brasileiros, o disco deixa o metal progressivo em segundo plano, porém expande de maneira significativa os horizontes do grupo original de João Pessoa, na Paraíba.
Não por acaso, Oferenda no Alguidar foi justamente a primeira música do disco a ser revelada ao público. Enquanto preserva parte da crueza do trabalho anterior, efeito direto das vozes guturais e a metranca da bateria, guitarras sinuosas que tendem ao jazz, camadas de sintetizadores e um triângulo típico do forró pé-de-serra levam o som da banda para outras direções. É como um insano cruzamento de informações que joga o ouvinte de um canto a outro do material, destacando a versatilidade do grupo paraibano em estúdio.
Claro que essa pluralidade de estilos e esforço do grupo em provar de novas sonoridades não interfere na entrega de composições intimamente relacionadas ao trabalho anterior. É o caso de Boitatá (Incidente na pia batismal da Capela de Bom Jesus dos Aflitos). Em um intervalo de mais de sete minutos de duração, a faixa destaca o esforço da banda em trilhar novos percursos, porém estabelece na brutalidade das vozes, batidas e arranjos a mesma sensação de impacto percebida em parte expressiva das canções de Holoceno.
Entretanto, como indicado logo nos minutos iniciais, todos os esforços estão voltados para que o grupo não se repita criativamente. São estruturas contrastantes, quebras e momentos de maior ruptura que esbarram em canções talvez inofensivas e incapazes de causar qualquer impacto, como em Sol Raiar (Caminhando na Manhã Bonita), mas que preparam o ouvinte para a inventiva sequência de fechamento formada por Maracutaia, Ruínas e a intensa Rito de Coroação, faixa que parece pensada para as apresentações ao vivo.
É como um espaço permanentemente aberto às possibilidades, mas que estabelece na narrativa central do grupo um importante componente de amarra. Combinando elementos de realismo fantástico com a história real do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (1898 – 1938), o sexteto propõe uma narrativa épica que acompanha a jornada do homem mais temido do Brasil desde seu nascimento até sua ascensão.
Toda essa combinação de elementos poéticos, rítmicos e instrumentais resulta na formação de um trabalho menos imediato em relação ao disco anterior, porém tão fascinante quanto. Hoje formado por Rai Accioly, Vitor Alves, Pedro Francisco, Marco Mayer, Hector Ruslan e Rodolfo Salgueiro, o grupo investe na entrega de uma obra que preserva a traços da própria identidade criativa e tudo aquilo que foi conquistado pela banda em Holoceno, mas que encanta justamente por não depender do passado para seguir me frente.
Ouça também:
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.