Debochado, provocativo, estranho e, por isso mesmo, fascinante. Em Contato (2025, Risco), segundo e mais recente trabalho de inéditas da banda paulistana Pelados, o grupo formado por Lauiz, Manu Julian, Vicente Tassara, Helena Cruz e Theo Ceccato, deixa de lado os temas românticos, dores e conflitos típicos de jovens adultos para explorar um universo de novas possibilidades e propostas criativas deliciosamente delirantes.

Utilizando como pano de fundo o programa Voyager, da Nasa, que lançou duas sondas contendo discos de ouro com informações sobre a vida na Terra e instruções para contato com a raça humana, o grupo parte de uma abordagem talvez confusa e que nem sempre preserva o elemento temático, mas que encanta pelo caráter exploratório. É como se cada nova música do registro aportasse em um território criativo diferente.

Em Planeta OXXO, com participação de Felipe Vaqueiro, o grupo estabelece uma crítica ácida à invasão das lojas de conveniência que vêm matando o comércio local em São Paulo. Já em Modrić, com referências ao futebol, imagens cotidianas e nonsenses, uma narrativa sobre derrota e desencanto, conceito que ganha um toque de tormento existencial em composições como Enel e busca por validação em Não Sei Fazer Refrão.

Mesmo a base instrumental do disco, já bastante plural nos antecessores Sozinhos (2020) e Foi Mal (2022), leva o trabalho da banda para outras direções, destacando o estilo de produção torto de Lauiz, ainda que o grupo assine o material coletivamente. A própria música de abertura do álbum, Os Pelados Sabem Demais, sintetiza de maneira bastante eficiente essa riqueza de ideias que move o trabalho do quinteto paulistano.

São criações que partem de uma interpretação bastante particular sobre a música pop, conceito reforçado no minimalismo hipnótico de Estranho Efeito e WhatsApp 2, faixa que destaca a capacidade da banda em produzir composições tão esquisitas quanto pegajosas e difíceis de serem ignoradas. “Você não sabe, mas eu quero sair com você / Você é chato, mas eu quero transar com você”, repete Julian ao longo da canção.

Naturalmente, esse amplo catálogo de informações e referências que vão Charli XCX à produção eletrônica de James Murphy tende a pequenos excessos. A própria porção final do trabalho, com canções como E aí, Beleza? e Music Is Supposed To Be Fun, parece menos polida e atrativa em relação ao bloco inicial da obra. São ideias talvez dissonantes, mas que escancaram a natureza inquieta e sempre investigativa da Pelados.

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