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Ano: 2023

Selo: Real World / EMI / Republic

Gênero: Art Rock, Pop Progressivo

Para quem gosta de: Brian Eno e Phil Collins

Ouça: Olive Tree e Live and Let Live

7.0
7.0

Peter Gabriel: “I/O”

Ano: 2023

Selo: Real World / EMI / Republic

Gênero: Art Rock, Pop Progressivo

Para quem gosta de: Brian Eno e Phil Collins

Ouça: Olive Tree e Live and Let Live

/ Por: Cleber Facchi 08/12/2023

Mais de duas décadas separam Up (2002), último álbum de estúdio de Peter Gabriel, do recém-lançado I/O (2023, Real World / EMI / Republic). Entretanto, os temas e estruturas incorporadas pelo compositor, cantor e multi-instrumentista inglês permanecem as mesmos. São composições marcadas pelo sempre meticuloso processo de criação do ex-integrante do Genesis, versos contemplativos que alternam entre inquietações políticas e conflitos existenciais em uma abordagem que avança em uma medida particular de tempo. Um exercício criativo talvez livre de grandes transformações, porém, interessante durante toda sua execução.

Apresentado ao público em duas mixagens diferentes – Mark Stent assume o Bright-Side e Tchad Blake o Dark-Side –, além de uma terceira, exclusiva para plataformas que contam com o formato Dolby Atmos – intitulada In-Side Mix e desenvolvida por Hans-Martin Buff –, I/O é uma obra extensa e que naturalmente exige uma audição atenta por parte do ouvinte, mas em nenhum momento deixa de encantar. É como uma coletânea de ideias acumuladas por Gabriel ao longo de três décadas, visto que parte das canções datam do início da década de 1990, quando o músico inglês esteve envolvido na produção do álbum Us (1992).

Com Panopticom como composição de abertura, Gabriel apresenta parte expressiva dos elementos que orientam a experiência do ouvinte durante a execução do material. Em geral, são canções que destacam o uso dos sintetizadores, programações e vozes em coro que se completam pela percussão detalhista, como uma extensão natural daquilo que o compositor tem explorado desde o final da década de 1970, quando deu início aos primeiros álbuns em carreira solo. Salve exceções, como a própria faixa-título, são criações extensas, como se o músico utilizasse da longa duração para melhor desenvolver suas ideias em estúdio.

Vem justamente dessa ausência de pressa o estímulo para algumas das melhores faixas do disco. É o caso de And Still. Com versos inspirados sobre a morte da própria mãe, a canção de quase oito minutos ganha forma aos poucos, detalhando a sutileza dos arranjos de cordas que se conectam diretamente aos versos de Gabriel. A mesma riqueza de ideias fica ainda mais evidente na composição seguinte, Live and Let Live, música que aponta para as criações do músico na década de 1980, cresce aos poucos e explode em uma colorida combinação de vozes, batidas e camadas de sintetizadores que reforçam a grandeza do trabalho.

Embora utilize de uma abordagem lenta e dependa de uma audição minuciosa, I/O está longe de parecer uma obra arrastada. Parte desse resultado vem andamento rítmico que orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do material, criando momentos de evidente euforia, como em Olive Tree e no som funkeado de Road To Joy que rompem com qualquer traço de morosidade. Entretanto, a longa duração e forte caráter atmosférico de determinadas composições, como Love Can Heal, criam pequenas bolhas que acabam consumido a experiência do ouvinte e alongando o repertório do disco para além do necessário.

Ainda assim, o grande problema envolvendo I/O não está necessariamente em sua estrutura, mas na forma como trabalho foi apresentado ao público. Desde o anúncio da obra, em janeiro deste ano, cada uma das doze faixas que integram o disco foram reveladas pelo músico inglês, tornando o processo de audição do material livre da sensação de impacto e esperado ineditismo de um álbum tão aguardado. É como se toda a expectativa criada por Gabriel ao longo das últimas duas décadas fosse aos poucos diluída, resultando na recepção morna de um registro marcado pelos detalhes e que merece sim ser apreciado em sua totalidade.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.