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Crítica

Pharmakon

: "Maggot Mass"

Ano: 2024

Selo: Sacred Bones Records

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Prurient e Lana Del Rabies

Ouça: Methanal Doll e Wither And Warp

7.4
7.4

Pharmakon: “Maggot Mass”

Ano: 2024

Selo: Sacred Bones Records

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Prurient e Lana Del Rabies

Ouça: Methanal Doll e Wither And Warp

/ Por: Cleber Facchi 21/01/2025

Seja explorando o processo de degradação do próprio corpo, como em Bestial Burden (2014),ou mesmo o sufocamento gerado pelas relações humanas, base para as canções de Devour (2019), Margaret Chardiet, a Pharmakon, sempre partiu de um objeto temático para mergulhar em um cenário marcado pelos ruídos. Quinto e mais recente trabalho de estúdio da artista, Maggot Mass (2024, Sacred Bones Records) segue de onde a musicista parou anteriormente, porém, utilizando de uma proposta criativa ainda mais complexa.

Diferente dos últimos trabalhos de estúdio, em essência voltados a questões bastante pessoais, Chardiet decidiu explorar o impacto causado pelos seres humanos no meio ambiente e a vida na Terra. A própria música de abertura do disco, Wither And Warp, funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco mais de oito minutos em partimos do som de moscas em um cenário em decomposição para mergulhar em um território marcado pelos ruídos e habituais experimentações da artista nova-iorquina.

Com o ouvinte imerso nesse conceito proposto por Chardiet, a atmosfera orgânica que marca os minutos iniciais dá lugar a um cenário totalmente industrial, indicando a brutalidade do avanço urbano sobre o meio ambiente. Segunda composição do disco, Methanal Doll sintetiza isso de maneira bastante eficiente. Enquanto as vozes guturais da artista tentam respirar, batidas em destaque, sempre ritmadas, criam uma ambientação totalmente claustrofóbica, reforçando o direcionamento opressivo que orienta Maggot Mass.

Mesmo quando deixa a instrumentação em segundo plano, como na curtinha Buyer’s Remorse, Chardiet em nenhum momento diminui a sensação de impacto e sufocamento proposto pelo trabalho. Tal qual um arauto do apocalipse, a musicista esbraveja com ferocidade, reforçando a forte carga dramática do disco. Ao fundo, ruídos estridentes, como unhas raspando em um quadro negro, acentuam o que se projeta nos versos. Poucas vezes antes a compositora pareceu tão furiosa e emocionalmente entregue em suas obras.

Pena que essa mesma potência explícita nos minutos iniciais do disco começa a se perder a medida que avançamos pelo trabalho. Em Splendid Isolation, por exemplo, ainda que a cólera de Chardiet seja sentida em cada mínimo fragmento de voz, o que se percebe na construção das batidas e bases que correm ao fundo da composição é uma interpretação pobre daquilo que a própria artista havia testado em canções como Methanal Doll. É como se Maggot Mass perdesse fôlego, desabando na derradeira Oiled Animals.

Escolhida para o encerramento do trabalho, a canção de dez minutos apresenta uma série de conceitos interessantes, como a letra que detalha um cenário de completa degradação, porém, assim como a faixa que a antecede, esbarra em uma produção que parece incapaz de traduzir musicalmente aquilo que a própria Chardiet expressa nos versos. São formatações repetitivas, proposta que até dialoga com o tema central do registro, contudo, livre do mesmo aspecto provocativo que caracteriza o restante do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.