Mesmo partindo de uma abordagem essencialmente reducionista, a estreia de Phylipe Nunes Araújo é uma dessas obras que não economiza nos detalhes. Com o violão e a voz sempre em primeiro plano, o cantor e compositor pernambucano diz a que veio logo nos primeiros minutos, no lirismo confessional e fluidez de Muito Dengo, canção que dispara com suas emoções pra cima do ouvinte e sintetiza a essência do trabalho.

Dado esse primeiro passo dentro do disco, Bixin, vinda logo em sequência, começa a revelar as pequenas nuances do trabalho, como a percussão discreta e a poesia que incorpora as vivências rurais de Araújo. É como um preparativo para o que se articula de forma mais encorpada na faixa seguinte, Zaz, composição de temática urbana que ainda evoca a cadência de Bruno Berle, coprodutor do registro junto de Batata Boy.

Com a chegada de Temperim, parceria com Alici, Araújo mais uma vez revela o que há de melhor dentro do disco: o lirismo bucólico. São versos descritivos que destacam o romantismo e a relação do artista com a música produzida no Agreste pernambucano. Já em Ainda É Verão, o cantor recorre ao uso econômico do violão para destacar a grandeza dos versos, sempre intimistas, detalhando a entrega emocional do artista.

Passado esse momento de maior vulnerabilidade, Santa Cruz leva o disco para outra direção. Da sensação de movimento impressa nos versos, passando pela percussão ritualística, mais uma vez Araújo faz muito com pouco. Nada que prepare o ouvinte para Asa. Faixa mais extensa do álbum, a canção aporta na MPB tradicional, contudo se destaca pela sobreposição dos arranjos e dimensão das vozes do pernambucano.

Menos complexa é a canção seguinte, Vim do Norte, música que funciona como um interlúdio, repetindo ideias e elementos testados ao longo da obra. Pouco mais de um minuto em que Araújo prepara o terreno para uma das principais faixas do álbum, Valise. Completa pela participação de Berle, a composição soa como um convite irrecusável a mergulhar no universo poético detalhado em conjunto pelos dois artistas.

Escolhida para o encerramento do álbum, Subindo a Ladeira traz de volta a abordagem ritmada que abre o registro, porém substituindo o romantismo de Muito Dengo pela temática urbana, reforçando a sensação de movimento explícita na canção que a antecede. Um precioso exercício criativo que reforça a ciclicidade e consistência do material, mas que escapa de repetições ao encontrar novos caminhos a serem explorados.

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