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Crítica

Pipa

: "Funk É Matemática"

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, Funk

Para quem gosta de: D.Silvestre e Carlos do Complexo

Ouça: Sexto Movimento e Funk É Matemática

8.2
8.2

Pipa: “Funk É Matemática”

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, Funk

Para quem gosta de: D.Silvestre e Carlos do Complexo

Ouça: Sexto Movimento e Funk É Matemática

/ Por: Cleber Facchi 11/12/2025

Produtor original de Vila Velha, capital do Espírito Santo, Filipe Gracioth, o Pipa, explora os limites do funk no primeiro trabalho de estúdio da carreira, Funk É Matemática (2025, Independente). Conceitualmente dividido em sete movimentos e uma canção de encerramento, o disco estabelece no uso fragmentado das batidas e bases etéreas da música de abertura parte dos elementos que serão explorados ao longo da obra.

São pouco mais de cinco minutos em que o artista desenvolve cada componente em uma medida própria de tempo. Exemplo disso fica ainda mais evidente em Segundo Movimento, canção que, mesmo parecendo um interlúdio, revela o experimentalismo sutil do produtor capixaba e ainda abre passagem para Terceiro Movimento, música que combina retalhos de vozes, ruídos e sintetizadores de maneira sempre labiríntica.

Com o ouvinte ambientado ao disco, Quarto Movimento reforça o caráter atmosférico da obra. Enquanto as batidas buscam respirar, sintetizadores submersos, texturas e fragmentos de vozes concedem à canção o mesmo acabamento urbano de artistas como Burial. O produtor ainda reserva algumas surpresas, como o inusitado fechamento onírico que esbarra no rap abstrato de MF DOOM, MIKE e outros nomes do gênero.

Essa mesma suavidade acaba se refletindo na faixa seguinte, Quinto Movimento. Completa pela presença de PersonFromBrazil, a composição leva o trabalho de Pipa para um novo território. Enquanto as batidas parecem incorporadas com maior firmeza, sintetizadores coloridos rompem com a atmosfera soturna do registro e ainda abrem passagem para a inserção de trechos de uma estação de rádio e melodias cósmicas.

Entretanto, quando o ouvinte começa a flutuar, a chegada de Sexto Movimento traz o trabalho de volta à realidade. Inaugurada por trechos de uma pregação, a faixa mais uma vez destaca o caráter exploratório de Pipa. Das batidas enevoadas que evocam Aphex Twin, passando pela força das vozes e sons que mais parecem o canto de pássaros digitalizados, tudo parece pensado para encantar. Nem a brusca inserção da pouco inspirada Sétimo Movimento, com trechos de Eu Sento e Me Acabo, consegue desestabilizar o disco.

Passado esse momento de maior comodidade criativa, Pipa pontua o material com excelência ao revelar a música-título do disco. Com mais de sete minutos de duração, a faixa é tanto uma síntese de tudo aquilo que o produtor apresenta ao longo do álbum, como um exercício de expansão. São camadas de sintetizadores, batidas, efeitos e vozes que se entrelaçam de forma a conduzir o ouvinte a um transe inevitável. É como um lembrete discreto de que, nas mãos do artista capixaba, até mesmo o caos encontra sua própria equação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.