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Crítica

Pluma

: "Não Leve a Mal"

Ano: 2024

Selo: Rockambole

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: YMA e Terno Rei

Ouça: Quando Eu Tô Perto e Não Leve a Mal

8.6
8.6

Pluma: “Não Leve a Mal”

Ano: 2024

Selo: Rockambole

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: YMA e Terno Rei

Ouça: Quando Eu Tô Perto e Não Leve a Mal

/ Por: Cleber Facchi 26/07/2024

Diferente de cardápios com código QR e outras heranças malditas do período pandêmico, Pluma é uma dessas coisas que surgiram durante os meses de isolamento social e que continuam a render bons frutos. Não por acaso, ao mergulhar no fino repertório de Não Leve a Mal (2024, Rockambole), primeiro álbum de estúdio do quarteto formado por Marina Reis (vocal), Diego Vargas (teclados), Guilherme Cunha (baixo) e Lucas Teixeira (bateria), somos agraciados com uma obra que potencializa tudo aquilo que o grupo havia testado nos dois primeiros EPs de inéditas, Mais Do Que Eu Sei Falar (2020) e o posterior Revisitar (2021).

Claramente pensado para as apresentações ao vivo da banda, o registro produzido pelo próprio grupo em parceria com Hugo Silva diz a que veio logo na canção de abertura, Quando Eu Tô Perto. Da poesia liberta e sempre confessional de Reis, passando pelo refinamento dos arranjos que oscilam entre o jazz, o pop e a música psicodélica, tudo parece perfeitamente encaixado. São canções que começam pequenas, por vezes discretas em excesso, mas que explodem em uma colorida combinação de melodias, vozes e sentimentos.

Livre de possíveis excessos e sem tempo para descanso, como quem viu parte da vida se perder durante os meses de pandemia, o grupo engata uma composição na outra, capturando a atenção do ouvinte sem qualquer dificuldade. Enquanto Se Você Quiser ganha forma aos poucos, culminando em um fechamento apoteótico, Corrida, com versos sentimentais e flerte com o drum and bass, seduz logo em uma primeira audição. “Amor é corrida / E sempre alguém fica sem ar”, canta Reis, que, acompanhada de Vargas, segue a mesma trilha romântica na posterior Jardins, música que logo desemboca na psicodélica Mais Uma vez.

É somente com a apresentação da letárgica Preguiça, também com vozes assumidas por Vargas, que somos autorizados a respirar. Ponto de separação entre a primeira e segunda metade do trabalho, a composição ainda abre passagem para o que talvez seja a peça central do registro, a já conhecida faixa-título. Enquanto os versos dão continuidade à narrativa proposta na introdutória Quando Eu Tô Perto (“Não sei o que dizer / Quando eu to perto de você“), sintetizadores cósmicos e a sempre calculada bateria de Teixeira se projetam de forma a potencializar as emoções de Reis, indicando o equilíbrio e intensa relação entre os membros.

Com a chegada de Plano Z, também direta e marcada pela fluidez dos ritmos, Não Leve a Mal perde parte da consistência explícita nos minutos iniciais, trilhando percursos irregulares, mas não menos fascinantes. A própria Sem Você, produzida em parceira com a dupla Deekapz, funciona como uma boa representação desse resultado. Surgem ainda composições como Doce/Amargo, um pop retrô que cheira a Rita Lee, e a jazzística Quanto Vai Ficar?, música que parece saída de algum disco do BADBADNOTGOOD, mas que em nenhum momento oculta a identidade criativa e instrumentação primorosa que marca a obra do quarteto.

Exemplo disso fica mais do que evidente quando alcançamos a derradeira Sonar. Com vozes mais uma vez divididas entre Reis e Vargas, a faixa tanto sintetiza os temas instrumentais e poéticos que surgem ao longo da obra, como amplifica esse resultado. São versos existenciais que se completam pelo saxofone de Lucas Gomes, levando o disco para outras direções. Um delicado exercício criativo que conclui temporariamente a jornada do grupo paulistano, porém, deixa o caminho aberto para um horizonte de novas possibilidades.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.