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Crítica

Porches

: "All Day Gentle Hold !"

Ano: 2021

Selo: Domino

Gênero: Indie, Synthpop

Para quem gosta de: Blood Orange e Alex G

Ouça: Lately, Okay e I Miss That

7.5
7.5

Porches: “All Day Gentle Hold !”

Ano: 2021

Selo: Domino

Gênero: Indie, Synthpop

Para quem gosta de: Blood Orange e Alex G

Ouça: Lately, Okay e I Miss That

/ Por: Cleber Facchi 15/10/2021

Mesmo repleto de bons momentos, vide músicas como Patience e Do U Wanna, havia nas composições de Ricky Music (2020), lançado no último ano, uma evidente sensação de estafa criativa por parte de Aaron Maine. Depois de dois ótimos trabalhos de estúdio, The House (2018) e Pool (2016), o cantor e compositor norte-americano parecia dar voltas em torno de um mesmo conjunto de ideias e experiências sentimentais. Satisfatório perceber nas canções de All Day Gentle Hold ! (2021, Domino), quinto e mais recente álbum de estúdio do Porches, um revigorante ponto de transformação e sutil reinvento por parte da banda.

Livre da morosidade que parecia orientar as canções do disco anterior, Maine e o co-produtor Yves Rothman (Miya Folick, Yves Tumor) investem na construção de um material marcado pelo dinamismo dos elementos. Parte desse resultado vem do maior destaque dado à bateria, elemento que sobrepõe as habituais camadas de sintetizadores e captações empoeiradas que apresentaram o grupo no início da década passada. Exemplo disso fica bastante evidente na introdutória Lately, música trabalhada em uma estrutura crescente, como se pensada para capturar a atenção do ouvinte logo nos momentos iniciais.

Essa mesma fluidez e criativa sobreposição de elementos acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo do trabalho. É o caso de Okay. Enquanto os versos refletem cenas do cotidiano – “Eu acordo / Como um grande buraco negro / Coloque um café pra mim / Acenda um e deixe todos em paz” –, camadas de guitarras e batidas rápidas se entrelaçam de forma a alavancar as vozes lançadas pelo artista. É como se Maine fosse de encontro ao mesmo território criativo desbravado em Pool, porém, partindo de uma abordagem ainda mais intensa, por vezes urgente, proposta também explícita na conhecida Back3School.

Outro elemento bastante curioso diz respeito ao tratamento dado aos vocais. Conhecido por uso habitual de efeitos e pequenas manipulações, Maine decidiu ir além com as canções de All Day Gentle Hold !. Perfeita representação desse resultado acontece na segunda metade do álbum, em músicas como In a Fashion. São pouco mais de dois minutos em que o músico parte de uma abordagem tradicional, porém, mergulha de cabeça em um ambiente totalmente torto, lembrando nomes como 100 gecs. A própria Swarovski, revelada minutos antes, utiliza de uma estrutura similar, porém, livre do mesmo direcionamento frenético.

Vem justamente desse esforço permanente de Maine em testar os próprios limites em estúdio a verdadeira beleza do trabalho. Salve exceções, como a curtinha e atmosférica Inasint, poucos são os momentos em que o registro desacelera, garantindo uma colisão de formas instrumentais, batidas, ruídos e vozes até a derradeira Comedown Song (Gunk). Claro que essa busca por novas possibilidades e momentos de maior experimentação não interferem na entrega de faixas acessíveis, íntimas dos antigos lançamentos da banda. É o caso de I Miss That, música que alcança em equilíbrio entre o lado torto e comercial do álbum.

O resultado desse processo está na entrega de uma obra essencialmente dinâmica. São canções que partem de experiências pessoais, cenas e acontecimentos que movimentaram a vida de Maine nos últimos meses, porém, enquadradas de forma diferente, conceito que vai da manipulação dos vocais ao uso fragmentado das batidas e temas instrumentais que orientam a formação do trabalho. Instantes em que o músico norte-americano resgata parte da essência e caráter inventivo dos primeiros registros da banda, principalmente o material entregue em Pool, e ainda abre passagem para um universo parcialmente novo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.