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Crítica

Quickly, Quickly

: "The Long and Short of It"

Ano: 2021

Selo: Ghostly International

Gênero: Hip-Hop, R&B, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: MNDSNG e Thundercat

Ouça: Shee e Everything is Different

8.0
8.0

Quickly, Quickly: “The Long and Short of It”

Ano: 2021

Selo: Ghostly International

Gênero: Hip-Hop, R&B, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: MNDSNG e Thundercat

Ouça: Shee e Everything is Different

/ Por: Cleber Facchi 30/09/2021

Aficcionado pelo catálogo da Stones Throw Records e profundo conhecedor da obra de J Dilla e Madlib, Graham Jonson passou os últimos anos brincando com as possibilidades em um estúdio caseiro montado na própria casa, na região de Portland, Oregon. Conhecido pelo nome de Quickly, Quickly, o artista de apenas 21 anos viu algumas de suas principais composições serem rapidamente absorvidas pelo público consumidor do famigerado “Lo-Fi Beats”, figurando em uma variedade de compilações e acumulando execuções na casa dos milhões, vide músicas como as conhecidíssimas Getsomerest​/​Sleepwell e Lie.

Entretanto, diferente de outros representantes do gênero, inclinados à produção de faixas que emulam uma nostalgia não vivenciada, Jonson se destacada como um artista extremamente técnico e detalhista em suas criações. Declaradamente inspirado pela música produzida nos anos 1970, principalmente o clássico Clube da Esquina (1972), de Milton Nascimento e Lô Borges, o cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor busca construir a própria identidade a partir do criativo resgate de referências, direcionamento bastante evidente nas canções que abastecem o atmosférico The Long and Short of It (2021, Ghostly International).

Terceiro e mais recente trabalho de estúdio de Jonson, o álbum de 11 faixas nasce como um acumulo natural de tudo aquilo que o músico estadunidense tem produzido desde os primeiros registros autorais. São composições marcadas pela maciez dos arranjos, melodias e vozes, porém, sempre pontuadas pelo uso dinâmico da bateria. Exemplo disso fica bastante evidente no labirinto sensorial de Everything is Different (To Me), criação que parte de um de um violão que emana brasilidade para mergulhar em um pop psicodélico onde cada mínimo fragmento instrumental transporta o ouvinte para um novo território.

Como indicado logo nos primeiros minutos da obra, em Phases, parceria com o poeta Sharrif Simmons, The Long and Short of It evidencia o esforço de Jonson em desenvolver cada composição a partir de uma abordagem cíclica, contínua e crescente. São retalhos instrumentais, batidas e vozes que se entrelaçam em uma estrutura quase meditativa e transcendental. É como se cada componente apresentado ao longo do álbum fosse revelado em uma medida própria de tempo, leveza que se reflete mesmo nos momentos de maior agitação do registro, como na doce pulsação de Leave It ou nas batidas e vozes da curtinha Feel.

São ideias e atravessamentos rítmicos que apontam para diferentes campos da música, evidenciam o completo domínio criativo de Jonson e ainda estreitam a relação com outros artistas dotados de uma sonoridade bastante similar, como MNDSGN e Thundercat. Instantes em que o multi-instrumentista norte-americano vai da produção de músicas puramente contemplativas e experimentais, como Wy, com suas batidas irregulares e sintetizadores cósmicos, à entrega de faixas deliciosamente acessíveis, marca de Shee, composição que parece apontar para o som nostálgico produzido pelo Gorillaz em Plastic Beach (2010).

Mesmo pontuado por momentos de menor complexidade, The Long and Short of It está longe de parecer uma obra fácil. Do momento em que tem início, em Phases, até alcançar a derradeira Otto’s Dance, Jonson se concentra na produção de um repertório essencialmente imersivo e que exige uma audição atenta. São inúmeros detalhes, diferentes variações instrumentais e quebras rítmicas que dificilmente se revelam por completo em uma primeira audição. Um minucioso exercício criativo que talvez desagrade ao ouvinte mais apressado, mas que contempla quem se permite guiar pelas experiências lançadas pelo artista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.