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Crítica

Raveena

: "Asha's Awakening"

Ano: 2022

Selo: Warner / Moonstone

Gênero: R&B, Pop, Neo-Soul

Para quem gosta de: Kali Uchis e Amber Mark

Ouça: Secret, Mystery e Kathy Left 4 Kathmandu

7.5
7.5

Raveena: “Asha’s Awakening”

Ano: 2022

Selo: Warner / Moonstone

Gênero: R&B, Pop, Neo-Soul

Para quem gosta de: Kali Uchis e Amber Mark

Ouça: Secret, Mystery e Kathy Left 4 Kathmandu

/ Por: Cleber Facchi 24/02/2022

Parte de uma frente de novos artistas que têm revisitado o R&B produzido no início dos anos 2000 e incorporado novas tonalidades ao estilo, Raveena estabelece nas canções de Asha’s Awakening (2022, Warner / Moonstone), segundo álbum em carreira solo, um precioso exercício de formatação da própria identidade artística. A exemplo de Kali Uchis, em Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞ (2020), a cantora parte da própria herança familiar e contato com a cultura Sikh para explorar a história de uma “uma princesa espacial do antigo Punjab que, por meio de uma fantástica jornada através dos séculos, aprende sobre amor, perda, cura e destruição”, como resume o texto de apresentação do trabalho.

São canções marcadas pela força dos sentimentos e permanente sensação de entrega da artista que cresceu na região do Queens, em Nova Iorque. E isso fica fica bastante evidente na introdutória Rush. Enquanto a base da faixa vai da percussão oriental ao R&B produzido por nomes importantes como Brandy e Monica, Raveena utiliza dos versos para capturar a atenção do ouvinte. “Ouvi dizer que ela é feita de música / Pronto para sua ruína / Fantasia americana / Ela está enroscada no ritmo“, provoca. São pouco mais de três minutos em que a cantora revela parte dos conceitos que sertão explorados até o fim da obra.

Uma vez imersa nesse ambiente tão característico, Raveena aproveita para confessar referências e estreitar a relação com nomes importantes da cena indiana e estadunidense. De um lado, composições como a atmosférica Asha’s Kiss, preciosidade em que conta com a colaboração da cantora, compositora e atriz Asha Puthli, no outro, o caráter urbano de Secret, faixa que se completa pela participação do rapper Vince Staples. São ideias e atravessamentos conceituais que mudam de direção a todo instante, como uma soma das memórias, experiências e sentimentos vividos pela artista desde a infância até o início da vida adulta.

Não por acaso, Asha’s Awakening é uma obra que demanda tempo e exige uma audição atenta por parte do ouvinte. Diferente do material entregue no disco anterior, Lucid (2019), onde a cantora parecia seguir uma estrutura convencional, o presente álbum ganha forma e cresce em uma medida própria de tempo. São composições marcadas pelo forte caráter imersivo, conceito reforçado mesmo nos momentos mais comerciais da obra, como no doce romantismo de Love Overgrown. A própria música de encerramento do trabalho, a contemplativa Let Your Breath Become a Flower (Guided Meditation), com mais de 13 minutos de duração, funciona como uma representação bastante significativa desse resultado proposto pela artista.

Claro que essa busca por um repertório atmosférico não interfere na produção de faixas mais acessíveis, como se pensadas para capturar a atenção de uma parcela maior do público. Exemplo disso acontece em Kathy Left 4 Kathmandu, composição que preserva a temática do disco, porém, sustenta na construção das batidas e guitarras que evocam a obra de Jai Paul um curioso componente de mudança. O mesmo direcionamento acontece na música seguinte, Mystery, canção que não apenas rompe com o R&B contemplativo do restante do álbum, como aponta de forma nostálgica para o soul produzido no anos 1960.

Tamanha convergência de ideias faz de Asha’s Awakening uma obra fascinante, porém, irregular. Na mesma medida em que utiliza de elementos da cultura Sikh como um precioso elemento de amarra conceitual, Raveena transita por entre estilos, ritmos e referências de forma a testar os próprios limites dentro de estúdio e apontar a direção seguida para os futuros trabalhos. São momentos de maior instabilidade que rompem com a atmosfera sensível do álbum, proposta que evidencia a potencia criativa e versatilidade da cantora, porém, diminui a força e homogeneidade indicada nos minutos iniciais do disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.