Ano: 2025
Selo: Independente
Gênero: Rap
Para quem gosta de: Kamau e Don L
Ouça: Abdul São, Algoritmado e Derradeira
Ano: 2025
Selo: Independente
Gênero: Rap
Para quem gosta de: Kamau e Don L
Ouça: Abdul São, Algoritmado e Derradeira
Em um cenário de caos urbano iluminado pela tela dos celulares, Rodrigo Ogi e Nill buscam por equilíbrio com Manual Para Não Desaparecer (2025, Independente). Produto da colaboração entre os dois artistas, o registro de onze faixas contrapõe o cenário turbulento que nos cerca e as interações sociais intermediadas por inteligências artificiais com um trabalho que, mesmo provocativo e crítico, nunca perde o bom humor.
Enquanto Ogi, autor de obras como Crônicas Da Cidade Cinza (2011) e Rá! (2015), mantém firme os jogos de palavras e versos sempre descritivos que concedem movimento ao material, Nill, responsável por registros como Regina (2017) e O Resgate do Maestro (2023), destaca o lado contemplativo, batidas e amplo catálogo de referências do álbum. Dois artistas vindos de campos distintos do rap, porém intimamente conectados.
Exemplo disso fica mais do que evidente no que talvez seja a principal faixa do disco, Abdul São. Utilizando a cidade de São Paulo como pano de fundo temático, Ogi e Nill convidam o ouvinte a mergulhar em uma experiência alucinatória e surreal, misturando referências pop, religiosas e cotidianas em uma narrativa caótica. Mesmo o desgastado meme “Que Show da Xuxa É Esse” ganha novo significado dentro da canção.
E isso é só o começo. Em Algoritmado, é a discussão sobre a dependência do celular e a alienação gerada pelos algoritmos que orienta de forma pertinente a construção das rimas. Já em Flash, a contradição entre a imagem pública e o sofrimento privado. Surgem ainda preciosidades como Derradeira, um pop agridoce que trata de forma sensível sobre o processo de cura após um término e destaca o lado acessível da obra.
É como se cada artista complementasse as rimas do parceiro, conduzindo o outro para campos totalmente inimagináveis em seus respectivos projetos em carreira solo. O próprio Ogi parece muito mais à vontade no repertório de Manual Para Não Desaparecer que no também colaborativo Aleatoriamente (2023), gerado em parceria com Kiko Dinucci. Mesmo quando o trabalho começa a perder fôlego, em O Plano de Cronos, a dupla paulista mantém firme a boa forma, equilibrando composições pungentes e faixas mais suavizadas.
O próprio diálogo com diferentes parceiros criativos, como Matéria Prima e SonoTWS, em Adagas e Facas, e Roberta Estrela D’Alva, na esperançosa E o Mundo Todo Sorriu, contribui para o dinamismo do material. São nomes como Jamés Ventura, Thiago Ticana e Cravinhos que surgem e desaparecem a todo momento, tornando o já amplo universo criativo de Rodrigo Ogi e Nill ainda mais fascinante, complexo e colaborativo.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.