Image

Ano: 2022

Selo: Thrill Jockey

Gênero: Eletrônica, Ambient Techno

Para quem gosta de: The Soft Pink Truth e Mouse on Mars

Ouça: A Ghost At Noon e A Yellow Robe

8.0
8.0

Sam Prekop & John McEntire: “Sons Of”

Ano: 2022

Selo: Thrill Jockey

Gênero: Eletrônica, Ambient Techno

Para quem gosta de: The Soft Pink Truth e Mouse on Mars

Ouça: A Ghost At Noon e A Yellow Robe

/ Por: Cleber Facchi 29/07/2022

Durante quase três décadas, Sam Prekop e John McEntire estiveram diretamente envolvidos em alguns dos projetos mais inventivos da cena de Chicago. Conhecidos pelas criações em bandas como The Sea and Cake e Tortoise, os dois instrumentistas fizeram do criativo cruzamento de ideias a passagem para uma seleção de obras que vai do experimentalismo jazzístico à produção eletrônica de forma sempre provocativa. Um campo permanentemente aberto às possibilidades, direcionamento reforçado em cada uma das quatro composições que abastecem o repertório do colaborativo Sons Of (2022, Thrill Jockey).

Extensão natural do repertório apresentado por Prekop há dois anos, durante o lançamento do também atmosférico Comma (2020), Sons Of se distingue pelo claro acréscimo de McEntire, produtor e baterista que já colaborou com nomes como Stereolab e Tom Zé. E isso fica bastante evidente na introdutória A Ghost At Noon. Em um intervalo de quase oito minutos, incontáveis camadas de sintetizadores surgem e desaparecem de forma a transportar o ouvinte para um mundo mágico e totalmente imprevisível. Um lento, porém, permanente desvendar de ideias que vai de texturas granuladas ao uso calculado das batidas.

Esse mesmo direcionamento ganha ainda mais destaque na canção seguinte, Crossing At the Shallow. Um pouco mais extensa, são quase 11 minutos, a música destaca o uso das batidas e ainda potencializa a base sintética que corre ao fundo da composição. São ambientações tortas que fazem lembrar das criações de Aphex Twin, porém, partindo de uma medida própria de tempo. De fato, tão logo tem início, na já citada A Ghost At Noon, Sons Of em nenhum momento ultrapassa o que parece ser um território criativo bastante característico. Composições que oscilam entre a pluralidade de ideias e o acabamento homogêneo.

Nada que prejudique a capacidade da dupla em testar os próprios limites dentro de estúdio. Exemplo disso acontece justamente na composição mais extensa do disco, A Yellow Robe. São pouco mais de 20 minutos em que Prekop e McEntire vão de um canto a outro em um labirinto de sensações, quebras e pequenas costuras rítmicas que ampliam consideravelmente os limites da obra. Batidas e sintetizadores cristalinos que preservam uma série de elementos apresentados logo nos minutos iniciais do registro, mas que parecem retorcidos de forma a atender aos interesses e estruturas propostas pelos dois compositores.

É como um preparativo para o material entregue minutos à frente, em Ascending By Night. Composição que mais se distancia do restante do álbum, a faixa evidencia o esforço de Prekop e McEntire em utilizar de uma abordagem essencialmente soturna e misteriosa. São sintetizadores enevoados, ruídos e batidas que parecem trabalhadas de forma a envolver o ouvinte. A própria sequência final da canção, com suas texturas sobrepostas e efeitos, torna tudo ainda mais interessante, jogando com a interpretação do público. Instantes em que a dupla preserva e perverte parte dos elementos incorporados ao longo do obra.

Tamanho cruzamento de informações propicia a formação de uma obra detalhista e marcada pelo forte caráter exploratório. Mesmo que parte expressiva do repertório gire em torno de um mesmo conjunto de ideias, sustentando no uso de sintetizadores e batidas reducionistas um componente de aproximação entre as faixas, evidente é o esforço da dupla em partir desse ponto em comum para o uso de pequenas variações e rupturas ocasionais. É como uma obra viva. Estruturas rítmicas e ambientações sintéticas que mudam de direção e assumem diferentes formatações a cada novo movimento de Prekop e McEntire.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.