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Crítica

Sault

: "Air"

Ano: 2022

Selo: Forever Living Originals

Gênero: Soul

Para quem gosta de: Ezra Collective e Sons of Kemet

Ouça: Solar e Time is Precious

8.0
8.0

Sault: “Air”

Ano: 2022

Selo: Forever Living Originals

Gênero: Soul

Para quem gosta de: Ezra Collective e Sons of Kemet

Ouça: Solar e Time is Precious

/ Por: Cleber Facchi 27/04/2022

A voz é o principal instrumento de Air (2022, Forever Living Originals). Sexto e mais recente trabalho de estúdio apresentado pelo misterioso coletivo britânico Sault, o registro de sete faixas segue uma trilha completamente distinta em relação ao material entregue nos últimos lançamentos da banda. Longe do soul/funk que parecia orientar obras como Untitled (Rise) (2020), Untitled (Black Is) (2020) e o ainda recente Nine, álbum que esteve disponível para audição durante um intervalo de apenas 99 dias, o novo disco chama a atenção pelo caráter operístico, como um exercício de estilo e inusitada transformação.

Inaugurado pela crescente Reality, o trabalho diz a que veio logo nos primeiros minutos. São coros de vozes que surgem e desaparecem a todo instante, como pequenas orquestrações aos comandos de Inflo, grande idealizador do projeto e produtor que já colaborou com nomes como Michael Kiwanuka e Little Simz. Pouco menos de quatro minutos em que somos transportados para dentro de um ambiente de emanações misteriosas. Um lento, porém, permanente desvendar de informações, estrutura que embala com naturalidade a experiência do ouvinte até a música de encerramento do disco, a delicada Luos Higher.

Uma vez imerso nesse cenário marcado por acréscimos, subtrações e momentos de maior comoção, Inflo e seus parceiros fazem de cada composição um objeto precioso, a ser observado individualmente. São estruturas colossais que capturam a atenção do ouvinte por conta do esmero dado aos arranjos e vozes. Exemplo disso fica bastante evidente em Solar, faixa que se espalha em um intervalo de mais de 12 minutos, incorporando parte expressiva dos elementos que caracterizam o trabalho. Instantes em que o coletivo britânico vai da música de câmara ao soul que evoca a obra de Aretha Franklin em Amazing Grace (1972).

E esse mesmo refinamento pode ser percebido durante toda a execução da obra. Em Heart, por exemplo, são delicadas camadas instrumentais que se revelam ao público em pequenas doses, como um precioso alicerce para a inserção dos vocais. Mais à frente, em June 55, um exercício marcado pelos contrastes. Instantes em que somos transportados de um ambiente soturno para um cenário de emanações radiantes, estrutura reforçada com a entrega da canção seguinte, a já citada Luos Higher, composição que ganha forma em meio a arranjos de cordas e inserções sublimes que transitam por diferentes campos da música.

Nada que se compare ao material entregue em Time Is Precious. Uma das principais composições do disco, a faixa de sete minutos parte de uma estrutura bastante similar ao restante da obra, porém, utiliza da construção dos versos como um importante elemento de diálogo com os antigos registros da banda. “Não perca tempo porque o tempo é precioso / É sua única vez que você tem aqui / A vida sempre trará suas pressões / Use-o com sabedoria e mantenha esses tesouros“, cresce a letra da canção, como um mantra, reforçando a carga emocional que orienta as criações do coletivo desde os primeiros lançamentos.

Passagem para uma nova fase na carreira do Sault, Air encanta pelo minucioso processo de composição e busca por novas possibilidades, porém, utiliza de uma estrutura rítmica bastante singular. Diferente do material entregue nos últimos trabalhos do coletivo, sempre marcados pela pulsação das batidas e maior movimentação entre as faixas, o presente álbum exige uma audição atenta e imersão do ouvinte. Mais do que garantir respostas, Inflo e seus parceiros lidam com a subjetividade e contemplação. São harmonias de vozes e orquestrações que abrem passagem para um ambiente misterioso, feito para ser explorado.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.