Image
Crítica

Sessa

: "Pequena Vertigem de Amor"

Ano: 2025

Selo: Mexican Summer

Gênero: MPB, Jazz

Para quem gosta de: Bruno Berle e Zé Ibarra

Ouça: Vale a Pena, Planta Santa e Roupa dos Mortos

8.2
8.2

Sessa: “Pequena Vertigem de Amor”

Ano: 2025

Selo: Mexican Summer

Gênero: MPB, Jazz

Para quem gosta de: Bruno Berle e Zé Ibarra

Ouça: Vale a Pena, Planta Santa e Roupa dos Mortos

/ Por: Cleber Facchi 14/11/2025

Outrora elemento central na vida de Sessa, a música perdeu parte do protagonismo quando, nos últimos anos, o cantor e compositor paulistano teve de lidar com o nascimento do primeiro filho. Vem justamente desse movimentado período de reorganização pessoal o estímulo para o repertório de Pequena Vertigem De Amor (2025, Mexican Summer), obra em que reflete de forma sensível sobre o processo de paternidade.

Inaugurado por Pequena Vertigem, o trabalho produzido em parceria com Biel Basile (O Terno) avança aos poucos, sem pressa. São fragmentos do cotidiano e cenas descritivas que ajudam a ambientar o ouvinte. É como um doce desvendar de sensações, proposta que ganha novo tratamento na faixa seguinte, a jazzística Nome de Deus, canção em que discute liberdade espiritual e autoconhecimento de maneira ritualística.

Partindo dessa abordagem expansiva, porém, preservando a temática central do disco, o artista mergulha em Dodói, canção que surge como um pedido por afeto e proteção em meio à dureza da vida, estrutura que se completa pela atmosfera que evoca a musicalidade brasileira da década de 1970. Esse mesmo olhar do cantor para o passado fica ainda mais evidente na instrumental Roupa dos Mortos, faixa que partilha do mesmo esmero de veteranos como Arthur Verocai e José Mauro, porém, preservando, a essência de Sessa.

Com a chegada de Bicho Lento, Sessa traz de volta a letargia que inaugura o disco e até repete estruturas, mas em nenhum momento diminui a beleza do trabalho. É como um preparativo para o que se reflete de maneira ainda mais sensível na esperançosa Vale a Pena. Da letra que surge como um abraço, lembrando as canções mais doces de Erasmo Carlos, passando pela delicada elaboração dos arranjos, tudo comove.

Menos contemplativa, Planta Santa destaca a brasilidade do músico paulistano e ainda sustenta na maciez das vozes um diálogo breve com a obra de Jorge Ben Jor. Nada que a canção seguinte, Gostos Naturais, não dê conta de perverter. Entre pianos elétricos, percussão reducionista e metais, Sessa volta a se aventurar pelo jazz, proposta que estabelece no coro de vozes femininas um traço bastante característico do artista.

Passado esse momento de maior calmaria, Sessa pontua o trabalho e a própria jornada emocional iniciada em Pequena Vertigem com Revolução Interior. É como se, partindo do processo de paternidade, o músico encontrasse um novo significado para a própria existência. “Viver não é mais que viver”, reflete em meio a ambientações sutis que se expandem como um sopro de lucidez, transformando cotidiano em revelação.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.