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Crítica

Sharon Van Etten

: "We’ve Been Going About This All Wrong"

Ano: 2022

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Angel Olsen e Cat Power

Ouça: Darkness Fades e Anything

8.0
8.0

Sharon Van Etten: “We’ve Been Going About This All Wrong”

Ano: 2022

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Angel Olsen e Cat Power

Ouça: Darkness Fades e Anything

/ Por: Cleber Facchi 19/05/2022

Nos meses que antecedem o avanço da pandemia de Covid-19 e o período de isolamento social, Sharon Van Etten, que há mais de uma década vivia na cidade de Nova Iorque, decidiu mudar com o parceiro, o músico e empresário Zeke Hutchins, e o filho pequeno para um nova residência na região de Los Angeles. Em casa, longe dos amigos e demais familiares, a cantora que havia acabado de lançar de lançar o delicado Remind Me Tomorrow (2019), de onde vieram faixas como Seventeen e Comeback Kid, mergulhou em um doloroso processo de criação e reflexão que em que passou a revisitar memórias e traumas acumulados.

Vem justamente desse período de forte instabilidade emocional o estímulo para as canções de We’ve Been Going About This All Wrong (2022, Jagjaguwar). Um dos registros mais dolorosos já produzidos pela artista de Nova Jersey, o trabalho que conta com co-produção de Daniel Knowles, parceiro de longa data da musicista, concentra o que há de mais característico nas criações de Van Etten. São composições sempre dilacerantes, como um passeio pela mente atormentada e sentimentos da compositora, porém, abertas ao diálogo com o ouvinte, sensibilidade que acaba se refletindo em cada mínimo fragmento do material.

Já faz um tempo desde que eu segurei você junto a mim / Já faz um tempo desde que nos tocamos / Todas as portas se fecham / Eu vi a queda“, detalha na introdutória Darkness Fades, composição em que reflete sobre o período de isolamento social e o inevitável distanciamento entre os indivíduos, porém, dotada de uma aplicabilidade ampla, sempre aberta a diferentes interpretações. São jogos de palavras tratados com evidente sutileza, mas que acabam revelando novas tonalidades a cada movimento da artista, proposta que acaba se refletindo com naturalidade até a música de fechamento do trabalho, a atmosférica Far Away.

A diferença em relação a outros trabalhos produzidos pela artista, principalmente o antecessor Remind Me Tomorrow, está na forma como Van Etten se concentra na produção de versos cada vez mais diretos e curtos, mesmo explorados de maneira cíclica, reforçando a ideia central e forte carga emocional detalhada dentro de cada canção. Exemplo disso fica bastante evidente em músicas como Home To Me, Come Back e Anything. São exercícios criativos que continuam a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento do disco, indicativo da força avassaladora de We’ve Been Going About This All Wrong.

Parte desse resultado vem da melancolia expressa na própria base instrumental do disco. Longe dos temas acústicos que marcam os primeiros registros autorais, como Epic (2010) e Tramp (2012), Van Etten segue de onde parou em Remind Me Tomorrow, reforçando o uso de sintetizadores e ambientações eletrônicas, porém, resgatando a mesma atmosfera densa que marca as canções de Are We There (2014). O resultado desse processo está na entrega de uma obra de essência homogênea, proposta que evidencia o domínio criativo da cantora durante toda a execução do álbum, mesmo esbarrando em pequenas repetições.

Não por acaso, sobrevive nos momentos em que mais se distancia desse resultado a passagem para algumas das composições mais interessantes do disco. É o caso de Mistakes, próxima ao encerramento do trabalho. Do uso destacado das batidas à potência das vozes e sintetizadores, tudo se projeta de maneira grandiosa, transportando o som produzido pela cantora para um novo território criativo. Dessa forma, Van Etten garante ao público uma obra consistente, mesmo pontuada por momentos de maior transformação, proposta que torna a experiência de ouvir We’ve Been Going About This All Wrong sempre satisfatória.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.