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Crítica

Sítio Rosa

: "Sítio Rosa"

Ano: 2024

Selo: Dobra Discos

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Jennifer Souza e Bernardo Bauer

Ouça: Lhasa, Lua e Chegou, Acordou

8.0
8.0

Sítio Rosa: “Sítio Rosa”

Ano: 2024

Selo: Dobra Discos

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Jennifer Souza e Bernardo Bauer

Ouça: Lhasa, Lua e Chegou, Acordou

/ Por: Cleber Facchi 03/12/2024

Sítio Rosa (2024, Dobra Discos) não é apenas um álbum, mas um refúgio. Produto da colaboração entre os músicos Jennifer Souza e Bernardo Bauer com as artistas visuais Julia Baumfeld e Laura Lao, o trabalho gestado durante a pandemia de Covid-19 parte de um cenário real e das experiências vividas pelo grupo no sítio da vovó Pitu, no interior de Minas Gerais, entretanto, expande seus domínios ao tratar de questões sentimentais que se projetam de forma a acolher e confortar o ouvinte durante toda a execução da obra.

Inaugurado em meio ao canto de pássaros e sons da natureza, o registro, coproduzido em parceria com o músico Kristoff Silva, diz a que veio logo nos minutos iniciais. São delicadas camadas instrumentais e uma fina tapeçaria acústica que se revela ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa. Um doce exercício criativo que encontra no cotidiano de Rosa, filha de Bauer e Lao, além das histórias envolvendo as cachorras Lhasa e Lua o estímulo para grande parte do repertório concebido pelo grupo para o trabalho.

São canções que giram em torno de um mesmo universo criativo, por vezes tematicamente limitadas, mas que traduzem de forma bastante sensível a ciclicidade forçada durante o período pandêmico. Composições que partem de vivências e narrativas sempre particulares da dupla de músicos, como em Te Ver Andar e Te Ver Nascer, mas que em nenhum momento deixam de dialogar com o ouvinte, efeito direto do lirismo orgânico que embala com naturalidade o desenvolvimento do trabalho até os momentos finais, em Benta.

É como se Bauer e Souza seguissem de onde pararam nos últimos trabalhos em carreira solo, Pássaro-Cão (2019) e Pacífica Pedra Branca (2021), porém, utilizando de uma abordagem ainda mais sensível, leve e reducionista. Exemplo disso fica bastante evidente em Lhasa. Enquanto os versos se projetam como uma contação de história, arranjos econômicos assentam ao fundo da canção, reforçando a atmosfera bucólica que honra as raízes mineiras da dupla e orienta de maneira sempre delicada o desenvolvimento do álbum.

O resultado desse processo está na entrega de um registro que naturalmente serve de passagem para um universo particular, próprio da dupla de músicos, mas que a todo momento estreita laços com diferentes parceiros criativos. É o caso de Fernanda Takai, do Pato Fu, com quem Bauer e Souza dividem os versos em Lua, uma das mais agitadas do disco. Quem também dá as caras é a conterrânea Luiza Brina, colaboradora em Chegou, Acordou, composição que ainda destaca a inserção dos sintetizadores atmosféricos de Silva.

Abrigo em tempos de adversidade, Sítio Rosa se firma como um trabalho que transita entre o pessoal e o coletivo, destacando a sensibilidade de seus realizadores mesmo nas composições mais regulares da obra. São registros documentais, poéticos e instrumentais de um dos períodos mais turbulentos e dolorosos da história recente, mas que nas mãos do grupo mineiro ganham novo significado e um delicado acabamento.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.