Hedonista, violento e difícil de ser ignorado. Assim é o trabalho de Slipmami em Até Aqui, Slip Nos Ajudou (2024, Independente). Sequência ao material entregue em Malvatrem (2023), o registro segue de onde a artista de Duque de Caxias parou no último ano, porém destaca a crueza das rimas. São composições que servem de passagem para um universo particular da rapper, exaltando suas conquistas e desejos, mas que em nenhum momento deixam de dialogar com o ouvinte, prontamente seduzido pelo repertório do álbum.

Inaugurado por Vai, Slip, o trabalho diz a que veio logo nos minutos iniciais. “Eu só queria o dinheiro, mas deram a fama também / Sou uma nerdola, mas a escola não entendeu bem / Corrente sobre corrente, meu pescoço pesa bem / Minha naturalidade fez eu chegar muito além”, dispara a artista fluminense que agora colhe os frutos do registro anterior, porém, anseia por mais. “Eu nasci pra gozar e ter prazer como se eu fosse um rei”, rima em Sacríficios de Sangue, composição que sintetiza pare desse direcionamento criativo.

É como se a artista fosse ao encontro do mesmo território de artistas como Megan Thee Stallion, Ice Spice e outros nomes conhecidos pelo hedonismo e lirismo explícito de suas composições, porém, preservando a própria identidade. “Se tu me ver com o teto baixo, com a música no máximo / Um moleque me chupando, usando belos sapatos / Saiba que ele é o teu gato”, provoca em Vai Vendo, canção que não apenas destaca a potência dos versos, como a força das batidas e produção grandiosa que se reflete até os momentos finais.

Acompanhada por nomes como Leo Justi, Vhulto e Dr. Ace, Slipmami eleva o que havia testado no trabalho anterior. São composições que destacam a construção das batidas, porém se permitem transitar pelos mais variados estilos, ampliando o campo de atuação da rapper. Enquanto músicas como Sacríficios de Sangue vão ao encontro do rock, outras, como Cruzadas, mantém firme e ainda pervertem a relação da artista com o rap, efeito direto da abordagem caótica que deliciosamente embala a sobreposição das batidas e bases.

Independente da direção percorrida em estúdio, prevalece durante toda a execução de Até Aqui, Slip Nos Ajudou a violência explícita nos versos. “Ponto vermelho na testa, vai deixar desfigurada / Vou te matar, depois usar tua roupa manchada / Violo sua mãe e também a sua afilhada / Mijo na tua cara e também dou uma gozada”, rima na insana Dureza Assaltar Uma Loja de Armas, composição que avança sobre o ouvinte.

Dessa forma, a artista dá continuidade ao material entregue em Malvatrem e até repete conceitos testados no disco anterior, como a celebração às próprias conquistas e excessos, mas em nenhum momento ecoa de forma repetitiva. A própria E.P.A.M., posicionada logo nos minutos iniciais do disco, funciona como uma boa representação desse resultado. “Eu nunca vou ser básica, eu confio em mim”, rima em um claro exercício de autoafirmação que destaca o domínio criativo e solidez de Slipmami até os últimos minutos do trabalho.

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