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Crítica

Sonhos Tomam Conta

: "Corpos de Água"

Ano: 2024

Selo: Longinus

Gênero: Indie Rock, Shoegaze, Dream Pop

Para quem gosta de: terraplana e Adorável Clichê

Ouça: Oração do Mar e A Sétima Onda

7.6
7.6

Sonhos Tomam Conta: “Corpos de Água”

Ano: 2024

Selo: Longinus

Gênero: Indie Rock, Shoegaze, Dream Pop

Para quem gosta de: terraplana e Adorável Clichê

Ouça: Oração do Mar e A Sétima Onda

/ Por: Cleber Facchi 24/04/2024

Fonte primordial para algumas das obras mais emblemáticas do que se entende como música brasileira, o mar é também o principal ponto de partida para um importante processo de transformação vivido por Lua Viana no mais recente álbum do Sonhos Tomam Conta, Corpos de Água (2024, Longinus). São oito faixas que busca estreitar a relação da artista com os ritmos nacionais, principalmente o samba e a bossa nova, porém, preservando as habituais vozes submersas, distorções e guitarras ruidosas dos antigos trabalhos.

Escolhida como composição de abertura, Uma Súplica, com sua característica levada de bateria, apresenta parte das regres que serão incorporadas ao longo da obra, entretanto, é na turbulência de Oração do Mar, logo em seguida, que o trabalho realmente diz a que veio. São pouco mais de seis minutos em que guitarras vão da calmaria ao mais completo caos de forma sempre impactante, transportando para dentro de estúdio a mesma ausência de certeza que orienta a formação das ondas do mar. “E as correntes vão nos levar / E me dissolvo nessa água“, canta Viana, indicando parte dos temas existencialistas que alimentam o registro.

Uma vez ambientado ao trabalho, cada nova composição parece levar o registro para outras direções. Em Tuas Pegadas, por exemplo, são camadas de guitarras que instantaneamente evocam veteranos como My Bloody Valentine, porém, encontram na ensolarada estrutura rítmica, típica da música brasileira, e uso da contrastante base melódica um elemento identitário. Ambientações talvez prejudicadas pela voz deficitária, característica comum em obras do gênero, mas que em nenhum momento deixam de seduzir o ouvinte.

Com a chegada de O Oceano de Solaris, Viana mais uma vez desacelera, vai de encontro ao samba rock e estabelece na sutileza das vozes de Magnólia um precioso componente de acréscimo. Pouco mais de sete minutos em que nos distanciamos do núcleo ruidoso da obra, tocando de leve na música psicodélica. Nada que a posterior De Areia e Sal não dê conta de perverter. Com vozes berradas, esbarrando no blackgaze, a colaboração com Meu Quarto É Vazio novamente muda os rumos do trabalho e amplia os horizontes do som produzido por Sonhos Tomam Conta, destacando a riqueza de ideias explícita durante todo o material.

Passado esse momento de maior turbulência, Scarborough Fair (Cântico) surge como um delicado respiro, utiliza de trechos da reinterpretação proposta pela dupla Simon & Garfunkel há quase seis décadas e ainda serve de passagem para a posterior A Sétima Onda. Inaugurada em meio a batidas e bases contidas, a faixa aos poucos muda de direção, deixando de lado o caráter atmosférico para provar do som ruidoso e vozes atormentadas de projetos como Deafheaven, tratamento que se completa pela presença de João Virtudes.

Inaugurada pelo canto de pássaros, como o amanhecer em terra firme após uma noite turbulenta em alto-mar, Trilhas de Água pontua o disco de maneira inicialmente contida, porém, logo assume novos percursos de forma a jogar com a experiência do ouvinte. São guitarras sempre carregadas de efeitos e estruturas talvez similares ao repertório entregue nos minutos iniciais do trabalho, porém, pontuadas por um sutil toque de vaporização etérea que torna impossível prever qualquer mínimo movimento proposto por Viana.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.