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Crítica

STRR

: "Quando Tudo Era Novo"

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Flume e Disclosure

Ouça: Quando Tudo Era Novo e Over You

7.0
7.0

STRR: “Quando Tudo Era Novo”

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Flume e Disclosure

Ouça: Quando Tudo Era Novo e Over You

/ Por: Cleber Facchi 24/08/2022

Há dois anos, durante o período de isolamento social, Mateus Estrela, o STRR, deu vida ao melancólico Instante (2020). São pouco mais de dez minutos em que o artista paraense se aprofunda na entrega de faixas marcadas pelo uso de ambientações soturnas e temas entristecidos, como uma representação das angústias vividas por qualquer indivíduo nos primeiros meses da pandemia de Covid-19. Interessante perceber em Quando Tudo Era Novo (2022, Independente), estreia do produtor que já trabalhou com Adriana Calcanhotto, Sammliz e Arthur Nogueira, a passagem para um novo e delicado território criativo.

Na contramão do registro que o antecede, o trabalho de nove canções chama a atenção pela atmosfera ensolarada, uso destacado das batidas e sintetizadores coloridos que alternam entre momentos de doce calmaria e faixas deliciosamente efusivas. Exemplo disso fica bastante evidente na própria música de abertura do do álbum, All I Can See Is You. São fragmentos de vozes, camadas e sobreposições sintéticas que não apenas distanciam Estrela do material entregue no registro anterior, como apontam a direção seguida pelo produtor paraense até a chegada da composição de encerramento do disco, Nostálgica.

Partindo dessa abordagem bastante específica, STRR convida o ouvinte a se perder em um território tão particular quanto íntimo de outros nomes importantes da produção eletrônica. São ecos de ODESZA, Flume e Jamie XX, porém, partindo de uma abordagem sempre reducionista, marca das criações assinadas pelo produtor paraense. Faixa-título e uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, Quanto Tudo Era Novo funciona como uma boa representação desse resultado. Pouco mais de dois minutos em que Estrela detalha cada elemento da canção em uma medida própria de tempo, sem pressa.

Dos poucos momentos em que rompe com essa estrutura, STRR convida o ouvinte a dançar. Exemplo disso fica bastante evidente na sequência composta por Over You e Baby. Localizadas logo na abertura do disco, ambas as canções potencializam o uso das batidas e sintetizadores que parecem apontar para as pistas. É como uma interpretação ainda mais intensa e detalhista de tudo aquilo que o artista havia testado em registros como o EP Low Profile (2019), de onde vieram faixas como Et Un Jour, Tu M’as Embrassé e Somebody Told Me. Um precioso cruzamento de informações, ritmos e delicadas camadas instrumentais.

Embora detalhista e pontuado por momentos de maior transformação, principalmente no bloco inicial do disco, Quando Tudo Era Novo invariavelmente acaba se perdendo em uma sequência de composições marcadas pela forte similaridade dos temas. Passado o lançamento da própria faixa-título do disco, Estrela transita em meio a canções que partem de uma abordagem reducionista, crescem em meio a batidas tortas e sutilmente retornam ao estado original. O próprio uso das vozes, sempre picotadas, contribui para esse resultado, reforçando uma aproximação entre as faixas que mais prejudica do que fortalece o trabalho.

Independente da direção adotada pelo produtor, prevalece em Quando Tudo Era Novo o refinamento dos arranjos e minucioso processo de criação. Diferente de outros projetos do gênero, sempre marcados pela urgência e plasticidade dos elementos, Estrela se atenta aos detalhes e criativa sobreposição dos elementos de forma bastante sensível. Para além da base eletrônica, perceba como incontáveis camadas de guitarras, ambientações e texturas orgânicas garantem maior profundidade ao material, proposta que naturalmente exige uma audição atenta, porém, gratifica o ouvinte durante toda a execução do repertório de nove faixas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.