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Crítica

terraplana

: "Natural"

Ano: 2025

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock, Shoegaze

Para quem gosta de: Adorável Clichê e gorduratrans

Ouça: Salto no Escuro, Charlie e Desaparecendo

7.6
7.6

terraplana: “Natural”

Ano: 2025

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie Rock, Shoegaze

Para quem gosta de: Adorável Clichê e gorduratrans

Ouça: Salto no Escuro, Charlie e Desaparecendo

/ Por: Cleber Facchi 19/03/2025

Quando se estreia com um registro tão consistente (e barulhento) quanto Olhar Pra Trás (2023), difícil não criar expectativa parta o que vem a seguir. Entretanto, para além de qualquer traço de conforto, satisfatório perceber nas canções de Natural (2025, Balaclava Records), segundo e mais recente álbum de estúdio da terraplana, uma obra que impressiona justamente por ampliar os horizontes de possibilidades da banda.

Enquanto Olhar Pra Trás parecia ambientado em um espaço essencialmente soturno, enevoado e sujo, com o presente álbum, o quarteto formado por Stephani Heuczuk (voz, baixo), Vinícius Lourenço (voz, guitarra), Cassiano Kruchelski (voz, guitarra) e Wendeu Silverio (bateria) deixa o subterrâneo para tocar a superfície. Não se trata de uma obra necessariamente ensolarada, mas capaz de levar o ouvinte para outras direções.

Não por acaso, Charlie foi a primeira composição do disco a ser apresentada ao público, marcando o início dessa nova fase na carreira do quarteto curitibano. Os ruídos e guitarras carregadas de efeitos ainda estão presentes, porém, sempre acompanhados de linhas melódicas, batidas enérgicas e vozes destacadas, como se o grupo atravessasse os habituais paredões de distorção tão característicos em outras obras do gênero.

Se por um lado essa mudança de direção revela detalhes antes soterrados por camadas de ruídos, texturas e distorções, por outro, torna os defeitos do registro ainda mais aparentes. Em S.N.C. e Airbag, por exemplo, enquanto a base instrumental eleva o trabalho da banda, as vozes masculinas terrivelmente desafinadas e encaixadas de um jeito tosco puxam o disco para baixo. Tudo bem que obras voltadas ao shoegaze não são reconhecidas pela impecabilidade dos vocais, mas esses momentos de desequilíbrio são difíceis de engolir.

Entretanto, por se tratar de um trabalho marcado pelo dinamismo dos elementos, esses instantes de maior instabilidade logo são substituídos e dão lugar a canções que destacam a potência do quarteto em estúdio. Da colaboração com Winter, em Hear a Whisper, à completa fluidez de Amanhecer e Morro Azul, sobram momentos de evidente grandeza. A própria composição de abertura, Salto no Escuro, com suas ondas de distorções e texturas ruidosas, cumpre com excelência a tarefa de ambientar o ouvinte ao restante da obra.

Não se trata de algo exatamente novo quando pensamos em tudo aquilo que a banda já havia testado em Olhar Pra Trás, porém, é sempre fascinante perceber as dinâmicas que envolvem um grupo plenamente consciente do próprio trabalho. Hoje acompanhados pelo produtor Joo-Joo Ashworth, que já contribuiu criativamente com outros nomes também barulhentos, como Dummy e SASAMI, os membros do quarteto curitibano continuam a se desafiar em estúdio, mesmo que isso acabe revelando algumas fragilidades.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.