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Crítica

The Antlers

: "Blight"

Ano: 2025

Selo: Transgressive

Gênero: Rock, Slowcore

Para quem gosta de: Low e Grizzly Bear

Ouça: Carnage e Something In The Air

6.0
6.0

The Antlers: “Blight”

Ano: 2025

Selo: Transgressive

Gênero: Rock, Slowcore

Para quem gosta de: Low e Grizzly Bear

Ouça: Carnage e Something In The Air

/ Por: Cleber Facchi 22/12/2025

Ainda que tenha seus próprios trabalhos lançados em carreira solo, difícil não pensar no The Antlers como uma extensão natural do próprio Peter Silberman. E isso fica ainda mais evidente com a produção de Blight (2025, Transgressive), registro em que parte de observações sobre o cenário ao redor como estímulo para o repertório que foi concebido, orquestrado e gravado quase que inteiramente pelo músico nova-iorquino.

Acompanhado apenas pela bateria de Michael Lerner, Silberman se aventura na execução de um trabalho marcado em essência pela temática ambiental e a crise climática. São canções que tratam sobre o estranho senso de normalidade em meio ao caos global, incêndios e inundações cada vez mais frequentes, como se o compositor deixasse os temas sentimentais para investir em um repertório de acabamento documental.

Mantenha suas janelas fechadas hojeHá algo no ar hoje”, canta em Something In The Air, faixa inspirada pelos incêndios em florestas canadenses que cobriam os céus de Nova Iorque de cinzas e tornaram o ar da cidade insalubre. Essa mesma abordagem volta a se repetir em outros momentos ao longo do disco, como na sequência formada por Calamity e A Great Flood, reforçando a temática ambiental que move o trabalho.

O problema é que esse tom crítico da obra nunca é suficientemente profundo, com o compositor chegando a culpabilizar o consumidor médio, mas nunca a indústria e o setor político que atua em defesa do modelo capitalista – grande responsável pela crise climática. “Rápido, eu preciso disso / Enviado em um dia, através dos oceanos / Estou disposto a pagar”, canta o norte-americano na rasa composição que dá nome ao disco.

Entretanto, para além das questões poéticas, conceituais e temáticas que orientam o trabalho, Blight é uma obra desprovida de ritmo. Salvo exceções, como a crescente Carnage, falta ao disco os momentos de maior catarse explícitos em registros como Hospice (2009) e Burst Apart (2011). É como se Silberman utilizasse uma abordagem ainda mais atmosférica e morosa do que a explorada no antecessor Green To Gold (2021).

Claro que isso não interfere na entrega de canções que, mesmo contemplativas, encantam pelos detalhes, como a extensa Deactivate. A questão é que, para cada momento de evidente beleza e potência em estúdio, Silberman reserva uma sequência de outras faixas que se arrastam, consumindo a experiência do ouvinte. No fim, Blight soa mais como um retrato apático do colapso do que uma resposta crítica ao fim do mundo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.