Image
Crítica

The Clientele

: "I Am Not There Anymore"

Ano: 2023

Selo: Merge

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: The Pastels e Destroyer

Ouça: Blue Over Blue e Fables of the Silverlink

7.6
7.6

The Clientele: “I Am Not There Anymore”

Ano: 2023

Selo: Merge

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: The Pastels e Destroyer

Ouça: Blue Over Blue e Fables of the Silverlink

/ Por: Cleber Facchi 22/08/2023

Mais de duas décadas após a apresentação do primeiro trabalho de estúdio, o cultuado Suburban Light (2000), prever a direção seguida pelos ingleses do The Clientele ainda está longe de parecer uma tarefa simples. Exemplo disso fica bastante evidente ao mergulhar na extensa Fables of the Silverlink. Composição de abertura do sétimo e mais recente registro de estúdio produzido pela banda, I Am Not There Anymore (2023, Merge), a canção combina arranjos de cordas com batidas eletrônicas e diferentes formatações de vozes em um intervalo de quase nove minutos que evidencia a completa riqueza de ideias do trio londrino.

Hoje formado por Alasdair MacLean, Mark Keen e James Hornsey, o grupo se aventura na construção de um repertório marcado pelas possibilidades. Mesmo pontuado por uma série de captações de campo e segmentos instrumentais que buscam aproximar as composições, cada fragmento de I Am Not There Anymore parece transportar o ouvinte para um novo território criativo. São momentos de maior ruptura estrutural que contrastam com o refinamento melódico do trio, direcionamento que estabelece laços com o passado da banda, mas a todo momento abrem passagem para um universo de novas possibilidades.

Mesmo marcado pela pluralidade de elementos, é possível organizar I Am Not There Anymore em dois blocos bastante característicos de canções. O primeiro, como indicado logo na introdutória Fables of the Silverlink, diz respeito ao lado exploratório da banda. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em Dying In May. São pouco menos de cinco minutos em que o trio se aventura na montagem de uma faixa que vai da música árabe ao drone na mesma medida em que sustenta na fluidez da percussão uma urgência única. Uma delirante combinação de ritmos, melodias e vozes sempre complementares.

Contraponto a esse experimentalismo sutil, o conjunto seguinte de canções traz de volta o que há de mais característico no som produzido pela banda. São harmonias de vozes, guitarras altamente melódicas e composições que trazem de volta a essência de registros como Strange Geometry (2005) e Bonfires on the Heath (2009). Música escolhida para anunciar a chegada do disco, Blue Over Blue sintetiza de forma bastante efetiva esse resultado. Entretanto, é com a chegada da posterior Claire’s Not Real e o aceno para a bossa nova que o grupo britânico realmente encanta o ouvinte pela precisão dada aos arranjos e vozes.

Surgem ainda composições que parecem nascidas do encontro entre esses dois extremos do trabalho. Em Conjuring Summer In, por exemplo, enquanto a base de pianos parece pensada para envolver o ouvinte, batidas eletrônicas, efeitos e fragmentos de vozes cíclicas esbarram na mesma combinação entre dub e dream pop que faz lembrar as criações dos suecos do The Radio Dept. em obras como Clinging to a Scheme (2010). E ela está longe de parecer a única, vide a colorida costura de elementos explícita em músicas como Stems of Anise, Through the Roses e toda a sequência de canções que pontuam o material.

Com todos esses elementos e diferentes direções criativas percorridas pelo trio em estúdio, I Am Not There Anymore é um registro que naturalmente exige um esforço maior do ouvinte na mesma medida em que o gratifica. Ainda assim, difícil passar pelo repertório do disco e não se sentir esgotado. Entre os dois vales que caracterizam a brilhante abertura e fechamento do álbum, existe toda uma sequência de interlúdios e pequenas distrações que não apenas estendem o material para além do necessário, como diminuem a impacto de canções que tanto evidenciam o experimentalismo como o lado mais acessível do grupo.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.